Mídia regional monta assessoria para o governo Bolsonaro
Edição 90: robôs atrás de jornalistas + as plataformas que lutem + cobertura sobre migrantes perpetua estereótipos
Olá, assinante!
Empresários da região sul vão lançar a Rede Regional de Notícias (RRN), consórcio “para captar diariamente as informações disponíveis do governo federal e fazer chegar à população”. A trupe se reuniu com o presidente da República e o ministro das comunicações, Fabio Faria, na semana passada, e este é mais um gesto de alinhamento governamental da mídia regional. Em agosto de 2019, já tinham beijado a mão de Jair Bolsonaro, e nada nos faz pensar que farão diferente agora: frisaram que a rede vai divulgar informações oficiais dos três poderes, mas não seria o caso de investigá-los, cobri-los criticamente e fiscalizá-los?
A RRN pretende envolver mais de cinco mil emissoras de rádio, 300 emissoras de televisão, além de sites de notícias. Tem colunista político chamando a iniciativa de “marco histórico da comunicação”. Só se for do servilismo, da submissão e da renúncia da independência jornalística…
(Só perde para a transmissão chapa-branca do jogo da seleção pela TV Brasil…)
VEM GUERRA AÍ?
Por anos, Google, Facebook & Cia não só drenaram oceanos de verbas publicitárias que iam para o jornalismo, mas também se recusaram a pagar por conteúdo jornalístico. Isso quebrou muita gente! Mas parece que o leite azedou.
Fenaj e FIJ querem que as grandes plataformas arquem com um fundo de fomento ao jornalismo, e na Europa já se fala de uma taxa para o mesmo fim. O Google tenta baixar a bola dos críticos e acena com investimentos na área, mas falta transparência nos critérios de qualidade e de escolha dos beneficiados, lembra a nossa pesquisadora Janara Nicoletti.
Não espere por outra coisa: a temperatura vai subir. Até o Congresso dos Estados Unidos reconhece que as big techs precisam se ajustar para não ameaçar o capitalismo e a democracia.
EU, ROBÔ?
Milhões de vezes você acessou um site e teve que clicar num botãozinho para provar que não é um robô. A ironia é que você precisa fazer isso para um sistema ou máquina, e não para uma pessoa. Agora imagine se usassem inteligência artificial para catalogar jornalistas conforme sua credibilidade…
Há quem já esteja pensando nisso… e são seres humanos!
RADAR
Há estereótipos para dar e vender na cobertura jornalística sobre migrantes e refugiados. Ao menos é o que a produção científica apontou nos últimos dez anos, segundo este mapeamento. O artigo integra um dossiê sobre processos de mobilidade publicado na revista Pauta Geral - Estudos em Jornalismo.
G1, UOL e Estadão, por exemplo, trataram a chegada de venezuelanos em Boa Vista como um problema. “Invadem” a cidade, “superlotam” abrigos, “sobrecarregam” o sistema de saúde são verbos comuns nas matérias.
Já uma análise de telejornais da Amazônia e Roraima adiciona mais camadas de complexidade. Fontes migrantes representam medo e insegurança para os moradores dos estados nortistas. Mas a cobertura também oscila no acolhimento aos refugiados, em um gesto humanitário de solidariedade.
Soma-se ainda a pouca visibilidade de pautas com mulheres refugiadas. E o apagamento do continente africano nas discussões sobre a crise migratória.
Para Camila Escudero, uma das autoras do dossiê, a escolha de migrantes como tema de reportagem exige cuidados extras. Respeito à experiência e trajetória dos sujeitos sinaliza um “compromisso ético” com as fontes.
Além do dossiê, você ainda pode acessar um compilado de manuais sobre cobertura de refugiados. Achou útil? Espalhe a palavra!
QUEM TEM MEDO DE MARX?
Mesmo em pautas LGBTI+, transexuais e travestis ainda são fontes pouco representadas. O estudo de Regiane Ribeiro e Eleonora Mendonça investigou telejornais locais da Rede Globo.
Documento elaborado pela Comissão Nacional da Verdade revela a perseguição política do governo militar contra a TV Excelsior, nos anos 1970. Ensaio de Rodolfo Bonventti e Dimas Künsch publicado na Tríade.
Estudiosos de jornalismo e Marx, uni-vos: um mapeamento de pesquisas que adotam o velho barbudo como referencial bibliográfico.
A sub-representação de mulheres pesquisadoras na Economia Política da Comunicação. E uma lista de autoras fundamentais na área.
As fake news contra Marielle Franco foram um aniquilamento moral da vereadora, argumenta Viviane Freitas.
Thaísa Bueno sistematiza quatro tipos de entrevistas pingue-pongue, a partir de exemplos no jornalismo brasileiro.
SECOS & MOLHADOS
Dois jornalistas falam dos desafios de produzir reportagens sobre desastres ambientais no Pantanal e na Amazônia. Ouça o último episódio do podcast Nós da Imprensa.
Jornal Nacional despolitizou as 150 mil mortes por Covid-19, analisa Maurício Stycer. Os 13 minutos dedicados ao tema ignoraram a atuação do governo.
Vai cobrir propostas de educação nas eleições? Este guia do Jeduca traz dicas.
Reflexões de repórteres da América Latina sobre a urgência de um jornalismo anti-racista.
New York Times em crise: uma das principais fontes da repórter Rukmini Callimachi mentiu sobre ter feito parte do Estado Islâmico, comprometendo várias matérias. O jornal fez um mea culpa e questionou seus métodos de apuração.
É possível noticiar teorias conspiratórias sem amplificar o alcance delas? No IJNet, cuidados para não legitimar grupos que espalham desinformação.
Jornalismo, hegemonia e reações contra-hegemônicas: artigo de nossa pesquisadora Clarissa Peixoto no objETHOS.
A ONU atualizou suas recomendações de proteção a jornalistas, e a Pública lançou uma cartilha sobre segurança.
Notícia ruim: Em Recife, o Diário de Pernambuco atrasou salários e demitiu 26 profissionais.
Notícia boa: a newsletter do Farol Jornalismo chegou ao número 300. Ainda não assina? Dê um jeito nisso.
Direitos Humanos em Diálogo é uma web-série com especialistas e voltada a jornalistas. São 10 lives. A primeira está aqui e a segunda, aqui.
Não tá fácil pra ninguém. A revista Sociedade Militar denuncia que a Marinha e a AGU tentam impor quebra de sigilo de fonte de seu editor…
AGENDE-SE
O 4º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação será realizado na próxima semana, mas você ainda pode se inscrever gratuitamente aqui. Cristina Tardáguila (Agência Lupa), Flavia Lima (Folha de S.Paulo) e Fernando de Barros e Silva (piauí/Foro de Teresina) são alguns dos convidados.
Jornalistas da região Norte podem fazer sua inscrição no curso Jornalismo e Territórios, organizado pela Énóis Conteúdo, com oficinas sobre cobertura de eleições, coronavírus, primeira infância e adolescência. Anote a data da primeira aula: 26 de outubro.
Perdeu alguma mesa do webinário Desinformação no Nordeste? Estão todas disponíveis nessa playlist do YouTube.
Notícias falsas e discurso de ódio nas redes são temas aceitos no próximo dossiê da Chasqui - Revista Latioamericana de Comunicación. Submissões até 25 de março de 2021.
Já a Fronteiras divulgou chamada sobre desinformação no contexto da pandemia. Envie seu resumo até 30 de novembro.
Na Alterjor, pesquisas sobre iniciativas jornalísticas da periferia vão integrar a nova edição do periódico. Prazo: 3 de novembro.
Jornalistas investigativos, não percam! O Prêmio Jornalismo-Mosca recebe inscrições até 20 de outubro.
Esta foi mais uma edição produzida por
Dairan Paul
e
Rogério Christofoletti
. Outubro tem mais uma, dia 28.
Este é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.