Por que esta newsletter foi chegar justo hoje?
Edição 87 | a repercussão da Lei Geral de Proteção de Dados + processos de checagem dos checadores + entrevistas com Maria José Braga, Roseli Figaro e Fernanda Campagnucci
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Sem mais delongas, bora para mais uma edição!
HORA DE FECHAR?
Muito home office por aí? Pelo jeito, sim.
Esses meses de isolamento social têm gerado muito aprendizado para todos. Foco, organização e disciplina pessoal estão sendo testados. O gerenciamento de equipes também tem vem se mostrando um dos desafios para jornalistas. Para alguns, tem funcionado bem. El Español, por exemplo, estuda manter o teletrabalho de forma permanente. Mas a New Yorker e o Washington Post vêem mais problemas com o fechamento das redações.
Desculpem a falta de modéstia, mas já falávamos disso há quatro meses...
LGPD & VOCÊ
Gosta de reviravoltas? Então, veja esta.
Há dois anos, o Congresso Nacional aprovou a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), um marco para garantir direitos de todos nos dias atuais. Mas a lei precisava de um órgão que fiscalizasse o seu funcionamento.
Michel Temer deu um empurrãozinho para que a LGPD não funcionasse. Depois, empresas fizeram pressão para atrasar a coisa. Aí, veio a pandemia e a desculpa de que não era um bom momento para novas regras. Bolsonaro quis adiar mais uma vez e a Câmara engoliu a história. Só que o Senado bateu na mesa: a lei é pra já! Ainda falta a sanção do presidente, mas a LGPD já é uma realidade.
O que tem a ver com jornalismo? Muito! Afinal jornalistas lidam com dados a toda hora e saber dos próprios direitos e dos das fontes é uma obrigação.
Não sabe por onde começar? Siga a Cristina De Luca, que tem oferecido uma das melhores coberturas sobre o tema. Acompanhe a Coalizão dos Direitos na Rede, composta por especialistas e ativistas. Confira este livro gratuito do Instituto Nacional de Transparência, Acesso a Informações e Proteção de Dados. Embora trate da realidade do México, tem muita coisa ali que vale para nós...
CONFUSÃO & CONFIANÇA
Um dos resultados imediatos da pandemia foi um aumento dos índices de confiança pública no jornalismo tradicional. Uma pesquisa do Reuters Institute mostrou que isso diminuiu um pouco em agosto. É motivo para alarme? Claro que não.
Sally Lehrman, do Trust Project, lembra nesta entrevista que o jornalismo deve servir ao público também nos tempos mais críticos como os atuais. É num cenário de desinformação que mais precisamos de informação confiável, certo?
Ajude, você também, a espalhar a palavra e veja esta dica da MIT Technology Review sobre como se proteger da desinformação.
INTERNAS
Nossa equipe abriu um espumante (imaginário, claro) para celebrar os 3 mil downloads dele: o Guia de Cobertura Ética da Covid-19. Temos certeza de que você já baixou, mas em todos os casos... vá por aqui.
Também voltamos com nossas entrevistas especiais. Maria José Braga, presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) abordou os recentes ataques contra profissionais da imprensa. Já a professora da USP Roseli Figaro comentou resultados do estudo que coordenou sobre as condições de trabalho na pandemia. Mulheres, freelancers e trabalhadores de arranjos alternativos estão entre os que mais sentem a instabilidade do momento. E na quarta-feira foi a vez de Fernanda Campagnucci, diretora executiva da Open Knowledge Brasil. Em pauta, transparência e dados abertos na cobertura da pandemia.
Pra finalizar, Ricardo Torres escreve sobre as tortuosas relações entre jornalismo e plataformas terceirizadas, como o TikTok. E Dairan Paul critica o termo “bunker de bandido” utilizado por G1 para se referir ao Complexo da Maré, em matéria publicada na semana passada.
RADAR
Na edição mais recente da Brazilian Journalism Research, destacamos um artigo de Daniel Damasceno e Edgard Patrício sobre os processos de checagem das agências Lupa e Aos Fatos.
100% das matérias analisadas em janeiro de 2019 utilizam ao menos uma fonte oficial. Para os autores, quando dados que validam checagens provêm apenas do Estado, corre-se o risco de prejudicar a credibilidade das agências. Uma saída é constituir bases próprias a partir de técnicas de big data.
O baixo retorno dos checados às iniciativas também chama a atenção pois impacta na prestação de conta das informações. Durante o mês analisado, nenhum político alvo de checagem respondeu aos questionamentos de Aos Fatos, enquanto que apenas 18, dos 69 consultados, retornaram à Lupa. Assessorias se mostraram pouco dispostas a esclarecer os erros detectados: “mesmo quando as explicações são dadas, os atores políticos as utilizam para reforçar narrativas próprias e minimizar os erros factuais”, concluíram Damasceno e Patrício.
Qualidade na cobertura jornalística do impeachment de Dilma Rousseff, o legado do pensamento de José Marques de Melo e a reinvenção de formatos proposta pelo Nexo são outros temas de artigos da revista.
Ah, e um bônus: pela primeira vez, o periódico publicou pareceres assinados dos avaliadores. Oportunidade para quem desejar conhecer mais dos processos científicos por trás das publicações.
DADOS, ALGORITMOS E... ARTE!
Monopólio do Facebook, controle de algoritmos e plataformização do conteúdo: tudo isso exige novos marcos regulatórios. Leia mais no artigo de Marcelo Kischinhevsky e Renata Fraga publicado na Fronteiras.
Sabe quando nasce a pesquisa em jornalismo de dados no Brasil? O primeiro artigo é do longínquo ano de... 2007! Três pesquisadores trazem uma revisão sistemática sobre as publicações do tema na Intexto.
Contribuições da estética para a reinvenção do jornalismo: Fabiana Moraes e Moacir dos Anjos buscam nas artes um caminho para restaurar a credibilidade jornalística. Por quê? Porque promove outros valores que não apenas os canônicos dentro da prática jornalística. Leia mais no artigo publicado pela Lumina.
Tem e-book novo da Fiocruz com artigos sobre movimentos antivacinas, fake news na ciência e estratégias de desinformação. É o segundo volume da série As relações da saúde pública com a imprensa.
Pesquisadores da UFSM, UFRGS e Universidad Complutense de Madrid publicaram o Minimanual para a cobertura jornalística das mudanças climáticas. Com texto de apresentação assinado por Sonia Bridi, o material traz dicas de fontes e recomendações sobre o tema.
Já que estamos falando em curadoria de conteúdo acadêmico, não deixe de assinar a Periódica. Assinada por Luiza Bodenmüller, a newsletter vai trazer mais publicações científicas sobre comunicação e jornalismo.
SECOS & MOLHADOS
Dez iniciativas de jornalismo independente uniram forças e criaram um canal de notícias para jovens. Conheça o Reload.
O jornalismo pode ser ao mesmo tempo empático e imparcial? Uma pesquisa na Syracuse University responde no Nieman Reports.
Existe solidariedade entre os jornalistas moçambicanos? A pergunta fez sentido depois que botaram fogo na redação de um jornal e seus colegas se calaram. Na Deutsche Welle.
Qual a responsabilidade dos telejornais policialescos na cultura do ódio atual? Fábio Marton responde no The Intercept Brasil.
Dicas para cobertura ética da comunidade trans, no IJNET.
Já assistiu a O Diabo Veste Prada? Chico Felitti mostra que talvez não seja tanta ficção assim...
A Folha de S.Paulo publicou editorial equiparando Jair Bolsonaro e Dilma Rousseff. Foi criticada pela ombudsman e por uma lenda viva do jornalismo, Jânio de Freitas.
A mesma Folha trouxe na sua homepage chamadas idênticas para três colunistas: Por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle?
Justiça do Rio obrigou o GGN a “retirar do ar” reportagens e artigos que denunciavam negociata envolvendo BTG Pactual e Banco do Brasil.
Falando disso, que tal baixar Censurados: historias que no pudieron calar?
TV Globo descobriu esquema do prefeito Marcelo Crivella para impedir o trabalho de jornalistas. Clima entre eles não anda bom desde dezembro...
AGENDE-SE
Manual de sobrevivência da mídia independente e alternativa é o nome do evento que marca 3 anos da AgênciaSaiba Mais, de Natal. Para comemorar, lives durante toda a semana com Kátia Brasil (Amazônia Real), Pedro Borges (Alma Preta), Leandro Demori (The Intercept) e grande elenco.
Tem interesse por pautas ambientais e cobertura da Amazônia? Inscreva-se no seminário Jornalistas em Diálogo, promovido pelo ((o))eco. Acontece de 14 a 16 de setembro e a programação completa está aqui.
Um dossiê sobre comunicação nas periferias, com submissões até 3 de novembro, na revista Alterjor.
Prazo prorrogado para o dossiê Narrativas jornalísticas, testemunhos e subjetividade, da revista Estudos em Jornalismo e Mídia: 15 de setembro!
Ainda de pé o prazo para a edição temática sobre economia política da desinformação, na Eptic, até 30 de outubro.
Já deu uma olhada no site da SBPJor de 2020? Olhaí!
E se você ainda não se inscreveu nos eventos de que já falamos antes, última chance: Abraji, Maratona DigiLabour, Compós e Intercom.
Dairan Paul e Rogério Christofoletti insistiram muito para que esta newsletter saísse. Quase desistiram, mas taí. A próxima edição chega antes da primavera. Aguarde o dia 16!
Este é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.