Que tal apoiar $$$ a mídia independente antirracista?
Edição 93: racismo e jornalismo + perfil de jornalistas sindicais + falta transparência na mídia e muito mais neste 2020 que não termina
Olá, assinante!
Você que é de humanas nem precisa fazer muito as contas: falta exatamente um mês para o Natal. Em anos normais, já estaríamos preparando retrospectivas, se acotovelando nas lojas para comprar presentes e tirando o pé do acelerador, certo?
Saudade de um ano decente, né, minha filha? Não é o caso de 2020. Este ano que insiste em nos surpreender e aterrorizar a cada dia. Então, antes que algo aconteça, chega de nariz-de-cera, e vamos a mais uma edição desta cartinha quinzenal.
CHUTANDO CANELAS
Olhe ao seu redor e responda com honestidade:
Quantos jornalistas negros trabalham na sua equipe?
Quantos chefes pretos você já teve?
Nesta semana, já entrevistou uma fonte negra que ocupasse um cargo ou função de decisão?
Já considerou apoiar financeiramente alguma mídia independente antirracista? Tipo Geledés, Alma Preta, Blogueiras Negras e Negrê…
TRANSPARÊNCIA…
A pandemia trouxe com força a necessidade de governos divulgarem dados corretos e precisos sobre a situação sanitária. A sociedade pede transparência, mas os jornalistas exigem. Pena que as empresas de mídia não sejam um exemplo disso, né? Nem aqui, nem em outras partes.
Acostumados a cobrar responsabilidade social do setor, os espanhóis percebem também que a coisa anda bem opaca por lá. Nenhum grupo de comunicação foi considerado transparente sobre suas políticas e práticas, concluiu um relatório lançado pela Fundación Compromisso y Transparencia.
A edição mais recente do estudo Primera Plana — a terceira — analisa os 21 maiores conglomerados de comunicação espanhol, trazendo um ranking do ramo, informações sobre financiamento e independência, e um apêndice com boas práticas anglo-saxãs. Já pensou um levantamento desses por aqui?
NOSSOS PARÇAS
No Observatório da Imprensa, Pedro Varoni e Thallys Braga entrevistaram os jornalistas Chico Otavio e Vera Araújo sobre o aguardado livro-reportagem “Mataram Marielle”.
Mais uma entrevista: a professora Maria Helena Weber, do ObComp, analisa o atual momento da comunicação pública para o Comunicolog.
Na Red Ética da Fundación Gabo, conselhos éticos de Javier Darío Restrepo para cobrir desastres naturais.
Como domingo ainda tem Segundo Turno em várias cidades, que tal conferir as contribuições da Coalizão Direitos na Rede ao processo eleitoral?
Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNDC) só cresce. Já são 74 iniciativas.
É NÓIS!
Não é exibição, não! É prestação de contas!
Três pesquisadores do objETHOS — Samuel Lima, Janara Nicoletti e Andressa Kikuti — são autores de capítulos na coletânea Novos olhares sobre o trabalho no jornalismo brasileiro, recém-lançada pela Editora Insular.
Em nosso site, Carlos Marciano escreveu sobre a esperança que vem das urnas, e Tânia Giusti se pergunta sobre o que podemos esperar da Rede Regional de Notícias.
O ano está acabando e a gente não para. Em algumas semanas, teremos uma baita novidade para os nossos leitores…
RADAR
Quatro décadas separam Todos os Homens do Presidente (1976) de The Post - A Guerra Secreta (2017). Clássico obrigatório nos cursos de jornalismo, o primeiro filme conta a história dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein no caso Watergate. Já The Post retrata o episódio de vazamento conhecido como Pentagon Papers, que revelou documentos sigilosos do envolvimento militar dos Estados Unidos no Vietnã.
Em comum, são histórias de dilemas éticos sobre a delicada relação de jornalistas e fontes. Como diferença, podem representar paradigmas distintos na prática jornalística. É o que argumentam as pesquisadoras Leticia Matheus e Patrícia Miranda neste ensaio publicado na revista E-Compós.
Para as autoras, mudanças observadas nos filmes sugerem um novo entendimento do que é o jornalismo, “colocando em xeque antigos parâmetros deontológicos da profissão”.
Todos os Homens do Presidente destaca a figura do super-repórter, cuja missão de investigar informações confere certa aura romântica à profissão. Não é o caso em The Post. Mais próximo do jornalismo contemporâneo, o filme aborda outro paradigma: a centralidade do editor nas tomadas de decisão dos veículos.
Compilar e editar materiais vazados limitaria, em alguma medida, o trabalho investigativo adicional dos repórteres. É a crítica de Matheus e Miranda: “grandes jornais passaram a operar como simples plataformas ‘vazadoras’, satisfeitos — pela economia que fazem — em reproduzir dossiês ou tweets de autoridades”.
Concorda? Discorda? Discute com a gente!
TRETA COM DIRIGENTE
Estudo de Cláudia Nonato e Letícia Kutzke traça um perfil de quem são os jornalistas sindicais de São Paulo. A maioria possui mais de 10 anos de atuação, é celetista e declara não possuir relação com movimentos sociais ou políticos.
Ainda, 40% afirmam produzir assessoria de comunicação nos sindicatos, ao contrário dos tímidos 27% que mencionam jornalismo informativo. “Ou seja, o imaginário de produzir uma mídia combativa no meio sindical se contradiz com o dia-a-dia da prática e das rotinas produtivas”, assinalam Nonato e Kutzke.
Dirigentes sindicais são um dos empecilhos. Boa parte dos participantes da pesquisa relata dificuldades para lidar com as chefias de sindicato.
Atritos vão desde a interferência dos superiores no trabalho dos jornalistas, incompreensão de como funciona o jornalismo e a recorrência dos dirigentes como fontes para pautas.
Outro tópico mencionado é o impacto da reforma trabalhista. Jornalistas sindicais temem pelo futuro dos seus locais de trabalho, com receio de possíveis mudanças que podem vir a acontecer no governo atual.
NO MUNDO DAS ASSESSORIAS
Jornalistas que atuam na assessoria de agências de comunicação não se sentem precarizados, apesar do acúmulo de funções e das frágeis condições de trabalho. Pesquisa de João Augusto Moliani, Fernando Pachi Filho e Camila Camargo no e-book Comunicação, Desenvolvimento, Trabalho: perspectivas críticas. Baixe gratuitamente.
Lembra da censura promovida pelo Supremo Tribunal Federal aos sites Crusoé e O Antagonista, acusados de publicar notícias falsas contra Dias Toffoli? Ivan Paganotti analisa os argumentos jurídicos e explica por que esses precedentes são perigosos.
Para João Guilherme D'Arcadia e Juliano de Carvalho, mídias sociais e aplicativos de mensagem formam o “não-lugar da notícia”. Informações que circulam nesses espaços possuem duas características: alcance imprevisível e a possibilidade de anonimato.
Jornalistas latino-americanos associam inovação a empreendedorismo, quando não trabalham para outros empregadores. Também consideram seus trabalhos como sendo mais inovadores do os feitos por acadêmicos de jornalismo.
Alô, pesquisadores de identidade profissional: tem artigo novo sobre as auto-representações de jornalistas investigativos da Noruega.
Como jornalistas de França e Estados Unidos lidam com métricas de audiência? Entrevista com a professora Angèle Christin (Stanford University) na última edição da newsletter DigiLabour.
SECOS & MOLHADOS
De primeira classe a cobertura do Matinal sobre o horrendo assassinato de João Alberto Silveira Freitas no Carrefour de Porto Alegre. É um exemplo — entre outros tantos — de um meio independente e local mostrando a força do jornalismo!
No começo do mês, uma ciclista foi atropelada em São Paulo enquanto voltava para casa. A cobertura do caso esbarrou na espetacularização da morte e culpabilização da vítima. Dica da leitora Olga Lopes em mensagem ao objETHOS.
Mais uma jornalista é vítima de ataques online. Em nota, FENAJ presta solidariedade à Maria Teresa Cruz após ser ameaçada por uma rede de perfis de extrema-direita.
A jornalista Janaína Xavier foi suspensa de suas atividades porque postou fotinho nas redes sociais ao lado da então candidata Joice Hasselmann durante a campanha eleitoral. O gesto contrariou orientações internas do Grupo Globo.
Achou que a Globo exagerou na punição e ignorou a liberdade de expressão da jornalista? Não é de hoje que o uso de redes sociais por jornalistas gera tretas. Na biblioteca do objETHOS, você tem acesso à dissertação de Janara Nicoletti sobre isso. De graça!
Por falar em dissertação, que tal ler a da portuguesa Mariana Maltês de Almeida Nogueira sobre ética jornalística e presunção de inocência?
Ainda em Portugal, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas criou uma página com temas de ética. Vale conhecer!
Falamos de sindicato? O dos jornalistas de São Paulo acaba de publicar mais uma edição do jornal Unidade. Matéria de capa: Gigantes Digitais sugam o jornalismo.
Da Espanha, Javier Brandoli conta em El Confidencial como a carreira de correspondente internacional vem se deteriorando por lá.
Alan Rusbridger, o lendário editor do The Guardian, diz: “Temos que repensar o jornalismo!”. Leia esta entrevista com o ex-chefão da redação.
Em Mato Grosso, mais um jornalista foi assassinado. Esta maldita contagem só aumenta neste país.
Na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, surgiu mais um observatório de mídia. Conheça!
Dois podcasts: Basílio Sartor, professor da UFRGS, discute por que o Amapá não é notícia. E Issaaf Karhawi, pesquisadora da USP, explica as diferenças nos pressupostos éticos de jornalistas e influenciadores digitais.
Rodada de lives: sustentabilidade financeira de ONGs jornalísticas; plataformização das indústrias midiáticas; jornalismo, ativismo e representação com Naiana Ribeiro, editora do portal iG; desinformação no contexto da pandemia.
Mais uma newsletter no pedaço: Cajueira faz curadoria sobre jornalismo independente produzido nos estados da região nordeste. Imperdível!
AGENDE-SE
Já está rolando o 29º Encontro da Compós. É pela internet e vai até sexta.
Começa hoje e vai até sexta também o 19º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, o ENPJ. Por aqui, gente.
Hoje, 25, às 17 horas tem debate no YouTube da ECA/USP sobre como será o jornalismo amanhã. Participam Eugênio Bucci, Carlos Eduardo Lins da Silva e Caio Túlio Costa.
Ainda hoje, às 18h, rola debate sobre o jornalismo como indutor de mudanças sociais, com Ricardo Alexino e Joel Scala. É o último do ciclo “A ética que queremos”, série organizada pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Dias 10 e 11 de dezembro tem o workshop online Medios, calidad y responsabilidad: La rendición de cuenta en tiempo de desinformación. Dá pra mandar resumos de até mil palavras até dia 29…
Dois prazos para dossiês que terminam na próxima segunda (30): “Jornalismo e experimentações” (Brazilian Journalism Research) e “Desinformação em plataformas digitais no contexto da pandemia” (Fronteiras) — nesta, você só precisa enviar uma proposta de resumo.
Como trabalham as rádios universitárias em tempos de ataques à ciência? Tema do primeiro dossiê de 2021 da revista Radiofonias. Submissões até 2 de fevereiro.
Ligue djá: vai rolar simpósio internacional sobre o fenômeno midiático Walter Mercado em 2021! Mais informações aqui.
Várias chamadas que divulgamos na edição anterior ainda estão de pé: dossiês sobre ética e deontologia na crise sanitária (Ámbitos — até 15/01), infodemia e o nosso futuro (Liinc — 31/03), comunicação, ética e ressignificação do humano (Paulus — 31/03), esfera pública de Habermas (31/05).
Rogério Christofoletti
&
Dairan Paul
não aguentam mais 2020. Afinal, ele já
deu motivos para ir embora
...
Até a próxima edição, em 9 de dezembro!
Este é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.