Dá pra cobrir as Olimpíadas sem torcer?
Edição 107: cavalinho do demônio + jornalismo esportivo independente + perfil do jornalista de educação
Olá, assinante!
Sem a CPI da Covid e com o presidente soluçando menos tem sobrado tempo e energia para acompanharmos os Jogos Olímpicos de Tóquio, né?
Apesar da boa vontade para maratonar nas madrugadas, não conseguimos driblar algumas escorregadas nas coberturas.
Tudo bem que o clima é de torcida, mas repórteres poderiam vestir menos a camisa e abandonar frases do tipo “fomos bem contra a Argentina no vôlei”; “a gente precisa avançar em mais duas etapas para a final”. Afinal, eles não estão competindo, mas cobrindo os jogos. Precisam guardar distância para narrar o que estão vendo. Sabem como é, autonomia, independência editorial, essas coisas…
CAÔ
Nas bancadas das resenhas televisivas, também falta distanciamento crítico e análises realistas. O otimismo exagerado aumenta a expectativa do público, muitas vezes mascarando a falta de apuração. Só depois de ser eliminada no skate street é que se soube que Pâmela Rosa competia lesionada. No dia da prova era favoritíssima para medalhas entre todos os comentaristas, iludindo muita gente.
Por falar em ilusões, já temos o primeiro lugar no pódio: o programa Ohayo Tóquio, do SporTV, é transmitido diariamente de estúdios no Rio de Janeiro e não da capital japonesa, conforme se pode pensar pelo cenário dinâmico nos “janelões” atrás dos convidados. As imagens são captadas ao vivo de câmeras instaladas em prédios no Japão e projetadas no fundo para dar a impressão de que seus apresentadores estão no olho do furacão olímpico. O público sabe disso? Deveria saber? Diz pra gente!
MAIS JOGOS
Sim, estamos completamente olimpizados nesta edição. Bora de jornalismo independente?
Projeto #Colabora destacou a crise climática que culminou no calor torrencial de Tóquio. Mais: as iniciativas sustentáveis dos jogos e o número recorde de atletas refugiados nas equipes.
Quem são os principais personagens africanos dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos? Ponta de Lança está contando a trajetória dos esportistas em uma nova série de podcasts.
União sul-americana: newsletter imperdível do Puntero Izquierdo sobre Angelo Caro Narvaez, o skatista peruano que vibrou tanto quanto os brasileiros com a medalha de prata de Kelvin Hoefler.
CAVALINHO MAU
Não foi uma total surpresa, mas que assusta, assusta. As revelações mais recentes sobre o uso do Pegasus para espionar mais de 200 jornalistas em 20 países colocam muitas redações em estado de alerta. O software israelense já era conhecido há anos pelas denúncias do movimento Gobierno Espía, do México. O presidente Peña Nieto negou, mas ninguém acreditou.
No ano passado, nosso pesquisador Ricardo José Torres defendeu tese que aborda as vulnerabilidades digitais dos jornalistas investigativos. Ataques cibernéticos são uma forma de risco profissional que precisa ser conhecida e combatida por veículos e jornalistas. Não é filme de James Bond; o perigo também ronda o jornalismo brasileiro: a Lava-Jato e Carlos Bolsonaro já tentaram trazer essa ameaça pra cá.
SIRVA-SE!
Nossa equipe não para de publicar análises de coberturas no site. As mais fresquinhas são essas aqui:
CPI da Covid: o que nos reserva as cenas dos capítulos finais? — Mariane Nava
Até quando o jornalismo aguentará a incerteza financeira? — Carlos Castilho
Jornalismo e Ativismo: ainda cabe falar em “objetividade”, “neutralidade” e “imparcialidade”? — Samuel Pantoja Lima
Não foi só o CNPq que sofreu apagão - Pedro Aguiar e Guilherme Carvalho (especial para o objETHOS)
RADAR
Nesta edição, quatro artigos sobre mídia e saúde. Três estão no dossiê mais recente da Revista Brasileira de História da Mídia:
A crise sanitária familiarizou as redações com os estudos preprint (aqueles que ainda não foram avaliados pelos pares e podem ser alterados). Mas nem todas as matérias deixam claro a natureza dessas pesquisas. O perigo? Sugerir que as descobertas são incontestáveis, o que pode aumentar a desconfiança dos leitores com a ciência e o jornalismo.
E se o site do Ministério da Saúde resolvesse apagar o número de infectados por Covid-19? Ana Javes Luz lembra que transparência e direito à informação têm a ver com preservação da memória. E ela está em risco no Brasil.
O uso do Instagram por governos latino-americanos durante a pandemia teve como foco a prevenção. Só dois países disseminaram desinformação sobre cloroquina. Um é a Venezuela. O outro, você já sabe…
Perigoso, imprevisível e incapaz: em quase quatro décadas de cobertura do jornal piauiense O Dia, a figura do “louco” foi associada a diversos estigmas sociais. Mas Camila Franklin e Juliana Teixeira identificam mudanças editoriais recentes que tentam quebrar estereótipos sobre saúde mental.
ÉTICA ALGORÍTMICA
Na edição passada, perguntamos se já havia uma vacina contra erro jornalístico. Claro que não há. Provamos, cometendo nosso próprio erro!
A gente trocou o link de uma pesquisa sobre veículos jornalísticos da Amazônia Legal. Vá por aqui e acesse o e-book feito pelo Projor em parceria com o Observatório da Imprensa.
Agora sim, aos trabalhos!
Desertos de notícia é um termo que você já deve ter ouvido falar por aí. Mas e se também existissem desertos de formação superior em Jornalismo?
“Por interagirem com a sociedade em geral, os algoritmos não podem simplesmente reproduzir os valores sociais vigentes”, escrevem Regina Rossetti e Alan Angeluci. Eles defendem o conceito de ética algorítmica em artigo para a revista Galáxia.
O principal propósito do jornalismo não é sustentar a democracia ou providenciar informações factuais. Chris Anderson propõe uma nova teoria normativa: o jornalismo de medo deve expor crueldades, tomar o lado dos mais fracos e contribuir para uma política de solidariedade. Estudo disponível em acesso aberto.
Tem novo relatório da Jeduca sobre o perfil do jornalista de educação no Brasil. Mulheres brancas, residentes no Sudeste e entre 31 a 40 anos são maioria no setor.
Como planejar, elaborar e lançar um programa de membros no seu veículo de jornalismo? Explore este guia traduzido para o português.
Diversidade no Jornalismo Latino-Americano é um ebook gratuito sobre como tornar redações mais inclusivas.
Mais livros: e-book com os anais do 6º Encontro Nordeste de História da Mídia. Comunicação e historicidade das crises foi o tema da edição.
SECOS & MOLHADOS
Xavier Ramon Vegas é professor e pesquisador com tese sobre ética no jornalismo esportivo. Em 2016, escreveu dicas (que continuam atuais!) para uma cobertura de qualidade dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Flavia Oliveira discute a relação entre jornalismo, direitos humanos e ativismo em entrevista ao Portal Catarinas.
Mão na roda para jornalistas e acadêmicos: pesquise informações publicadas em diários oficiais municipais com a ferramenta Querido Diário.
Abraji e Fiquem Sabendo vão oferecer a 10 redações um curso gratuito sobre uso da Lei de Acesso à Informação. Até 300 jornalistas devem receber treinamento por um ano.
Live sobre o futuro do jornalismo independente no Brasil com Mariana Filgueiras (UFRJ) e Carolina Monteiro (Marco Zero Conteúdo e Unicap).
Deputado machão vai ter que pagar indenização (rimou!) ou Declaração machista rende indenização à jornalista (também rimou!)
Machões, arrepiem! Pela primeira vez desde a sua criação em 1938, todos os Prêmios Maria Moors Cabot vão ser dados para mulheres jornalistas.
Na Alemanha, uma jornalista foi cobrir as enchentes e chegou a se sujar de propósito para dar mais dramaticidade à reportagem. Foi demitida.
Participe de uma pesquisa da FIJ sobre jornalismo e mudanças climáticas.
Pesquisa do Reuters Institute mostra que muita gente não está nem aí pra crise financeira do jornalismo. Luxemburgo está.
Sabe o general Pazuello? Quis dar um “teje preso” em repórter da Folha.
Por falar em milicos, nossa parceira Fiquem Sabendo teve grande vitória, conseguindo a liberação de 27 anos de dados sobre pensões militares.
Luz amarela: a Polícia Civil de Goiás impôs sigilo de cinco anos sobre a operação para capturar Lázaro Barbosa. O que querem esconder?
Alerta vermelho: relatório indica que alertas à liberdade de imprensa subiram mais de 200% no Brasil.
O Programa de Proteção Legal da Abraji saiu do papel e vai defender dois jornalistas acossados na justiça.
AGENDE-SE
Hoje tem debate sobre ética jornalística na pandemia. Patricia Campos Mello, Mauri König e Rogério Christofoletti serão mediados por Lenise Klenk, do Sindicato dos Jornalistas do Paraná. A partir das 19 horas, acompanhe por aqui.
Amanhã, o Observatório da Mídia comemora 10 anos do projeto Comunicaê.
Na próxima semana, dia 3, Énois publica manual de jornalismo sobre cobertura da primeira infância e adolescência. Inscreva-se no evento de lançamento.
Fenaj está fazendo seminários regionais para discutir sua proposta de taxar as big techs e criar um fundo de salvação do jornalismo. Confira.
Elaíze Farias e Kátia Brasil, fundadoras da Amazônia Real, são as homenageadas do 16º Congresso da Abraji. Com inscrições abertas, será entre 23 e 29 de agosto, online e gratuito.
Os 50 anos de carreira de Caco Barcellos serão comemorados em livro. Quatro programas de pós-graduação em Jornalismo recebem propostas de resumo sobre a obra e trajetória do jornalista até 22 de outubro.
Pensar o futebol na mídia e no jornalismo. Este é o tema de dossiê da Mediapolis que aceita textos até 30 de novembro.
Temas livres para a próxima edição da revista Estudos em Jornalismo e Mídia, com publicação prevista para dezembro.
Radiojornalismo no dossiê “Democracia e cidadania nas ondas sonoras”, organizado pelo periódico Esferas. Prazo generoso: até 31 de janeiro de 2022.
Daqui a pouco encerram os prazos de submissão para os eventos da Intercom e SBPJor: até 12/08 e 15/08, respectivamente.
Outras chamadas encerram ainda este ano: na Âncora vai até 20/08 e recebe textos diversos. Na Líbero, até 15/09, com o tema jornalismo como forma de conhecimento no contexto da pandemia.
Taí mais uma newsletter com curadoria de
Dairan Paul
e
Rogério Christofoletti
. A próxima virá em 11 de agosto. Até!
Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.