O pódio que gostaríamos nas Paralimpíadas
Edição 109: adeus do mestre + desequilíbrios de gênero + 3 livros grátis
Olá, assinante!
As Paralimpíadas começaram ontem, 24, em Tóquio, e existe grande expectativa sobre o desempenho dos atletas brasileiros, que conquistaram 72 medalhas no Rio em 2016. Aliás, já tem ouro, prata e bronze!
Mas se o jornalismo também disputasse, gostaríamos de ver:
Medalha de bronze: coberturas que ocupassem mais tempo e espaço do que nas vezes anteriores, ampliando a visibilidade desses atletas.
Medalha de prata: jornalismo que passasse a cobrir essas modalidades full-time e não apenas a cada quatro anos.
Medalha de ouro: matérias que driblassem o capacitismo e os clichês do “coitadismo” e da superação.
(Por falar nisso, que tal um minimanual de jornalismo humanizado que te ajuda a cobrir histórias de pessoas com deficiência?)
ADEUS, NILSON LAGE
Às vésperas do fechamento desta edição, perdemos o professor Nilson Lage, uma referência nos estudos de jornalismo no Brasil.
Ele escreveu livros clássicos como “Ideologia e Técnica da Notícia”, e formou gerações de jornalistas e pesquisadores da área. Antes de seguir carreira acadêmica, foi jornalista no Diário Carioca, Última Hora, O Globo e Manchete. Tinha 84 anos e lutava há dois contra um câncer.
Vai fazer falta. Já faz!
NO OBJETHOS…
Samuel Pantoja Lima repassa as encruzilhadas da CPI da Covid.
Kalianny Bezerra mostra porque discurso de ódio não pode ser confundido com liberdade de expressão (sim! ainda tem gente que confunde…).
Jéferson Silveira Dantas escreve sobre a tática bolsonarista de manter tensão permanente.
Silvia Meirelles põe o dedo na ferida: preste atenção nas perguntas que alguns jornalistas fazem. Pode não ser por motivos jornalísticos…
Amanhã tem artigo novo sobre a CPI. Não deixe de conferir.
NA ABRAJI…
Começou na segunda, 23, e vai até domingo, 29, o 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. De forma remota, claro. A programação é variada e quente, e tem até entrevista com o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros!
Os melhores movimentos podem ser acompanhados pela cobertura colaborativa do Repórter do Futuro/Oboré.
Se a sua vibe é mais acadêmica, no sábado, tem o 8º Seminário de Pesquisa, com a apresentação de trabalhos científicos e mesas de debates. Pesquisadores do objETHOS participam de duas delas: Rogério Christofoletti debate com o ombudsman da Folha de S.Paulo, José Henrique Mariante, os limites éticos entre jornalismo e informes publicitários; e Samuel Pantoja Lima e Jacques Mick apresentam o livro “Jornalismo Local a Serviços dos Públicos", que sintetiza resultados de pesquisa realizada entre 2016 a 2019 em Joinville.
SALVE NOS FAVORITOS
Tem mais jornalismo independente pra você fortalecer. Leia e aprecie:
No aniversário de Teresina, Ocorre Diário lembrou porque a cidade é uma “maquina de moer carne de gente preta”. Videorreportagem contundente sobre a vida de mulheres negras que moram nas comunidades periféricas.
Em Alagoas, um observatório que analisava semanalmente o cenário pandêmico foi encerrado devido aos cortes orçamentários na UFAL. Reportagem da Mídia Caeté denuncia mais uma peça no desmonte das universidades públicas.
Terminando de forma leve (mas nem tanto): um guia para quem desconhece literatura russa nesta entrevista do site A Pista com o tradutor Irineu Perpétuo.
RADAR
Várias pesquisas demonstram que a representação de mulheres nas notícias é problemática (alguém falou em estereótipos e fontes masculinas?). Tem a ver com a estrutura patriarcal da sociedade, claro. Mas a falta de recursos das redações também incide na qualidade da cobertura, argumentam pesquisadores da Universidade de Zurich, na Suíça.
Daniel Vogler e Lisa Schwaiger analisaram 77 mil itens noticiosos publicados em 16 veículos suíços entre 2011 e 2019. Perceberam que o predomínio de homens diminui com o tempo, mas ainda permanece nas editorias de esportes, política e economia. Mulheres são mais mencionadas como fonte ou tema de cobertura quando a matéria não utiliza apenas textos de agência de notícias.
E quem depende menos de agência é quem tem dinheiro para investir em apuração.
Segundo os autores, os resultados demonstram que mulheres são melhor e mais representadas no noticiário quando jornalistas dispõem de recursos para apurações mais qualificadas. Ou seja: tempo. Vogler e Schwaiger observam que mesmo profissionais conscientes das disparidades de gênero tendem a recorrer às mesmas fontes masculinas devido à pressão das rotinas nas redações. Um ciclo vicioso, em outras palavras.
Pra não ter desculpa, lembramos que existem bancos de fontes que facilitam o acesso de jornalistas a vozes mais diversas. Acesse Celina, Mulheres do Mato, Entreviste um Negro e Jornalismo Antirracista. Conhece mais algum? Escreve pra gente!
ANÁLISE DE CONJUNTURA
De que forma a retórica bolsonarista se manifesta nos comentários dos leitores? Lia Pagoto e Raquel Longhi desceram até as profundezas do Instagram para investigar ataques contra o jornalismo.
Foucault e ética jornalística ornam? Mirjam Gollmitzer quer nos convencer que sim. Ela utilizou conceitos como “empresário de si” e “eu ético” para interpretar o trabalho precarizado de jornalistas freelancers.
Que tal uma análise de conjuntura das políticas de comunicação no Brasil? Tem este ótimo ebook que resultou da parceria entre o LaPCom (UnB) e a ULEPICC. Janara Nicoletti, pesquisadora do objETHOS, assina capítulo com Fernando Paulino e Elton Pinheiro sobre violência contra jornalistas na pandemia.
Já estão disponíveis os dois volumes do ebook “Comunicação e Jornalismo: metodologias para se pensar a docência, o ensinar e o pesquisar”, com organização de Gilson Pôrto Jr. Aqui e aqui.
SECOS & MOLHADOS
Os talibãs voltaram com tudo e isso também é uma notícia ruim para os jornalistas, conforme se pode ver nesse apanhadão do Farol Jornalismo.
O jornalismo também falhou no Afeganistão, opina Peter Klein na Columbia Journalism Review. Será?
Justiça rejeitou queixa-crime de Augusto Aras contra o colunista da Folha de S.Paulo e professor Conrado Hubner Mendes.
Por falar em justiça, Anderson Scardoelli lembra como o presidente da República e seu guru astrológico se deram mal em processos contra jornalistas…
Ainda assim, jornalistas continuam apanhando sob as asas de Bolsonaro.
De olho nisso e na avalanche de ataques acumulados será lançada no dia 31 uma rede de proteção de comunicadores e jornalistas.
Imparcialidade: um estudo do Reuters Institute que abrange Brasil, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos.
Conflito de interesses. Falamos pouco disso no Brasil, mas Tim Schwab deu umas caneladas na mídia dos EUA…
Jornalismo digital no contexto da plataformização: um vídeo do GJOL com Rosental Calmon Alves.
Tempo de TV é corrido, né? Natuza Nery dá um jeito nisso.
Em Portugal, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas está preocupado com o uso de figuras de estilo no lugar de nomes próprios…
Ainda em Portugal, um jornal publica artigo de médico negacionista, mas se arrepende, despublica e pede desculpas.
No Brasil, a CNN desmentiu no ar seu colunista Alexandre Garcia.
AGENDE-SE
A revista Eptic prorrogou o prazo para receber artigos para o seu especial sobre concentração na internet e regulação. Até dia 30.
Jornalismo e Comunicação Digital: plataformas, redes e atores em relação - um dossiê da revista Pauta Geral com prazo até 12 de setembro.
O Congresso Brasileiro dos Jornalistas acontece em setembro, de forma remota e dividido em dois finais de semana: dias 17, 18, 24, 25 e 26. Inscrições abertas.
Na revista Social Media + Society, tem chamada de textos sobre economia política da desinformação. Resumos até 15/10, artigo completo em março de 2022.
Como a pandemia modificou nossa experiência com a mídia? Este é o tema do próximo dossiê da Mídia e Cotidiano. Deadline em 19/10.
Realidade virtual será o centro das atenções em edição da Brazilian Journalism Research em 2023. Data de envio até 30/09 de 2022. Antes disso lembramos de outra chamada aberta: jornalismo empreendedor, até 30/11.
Aproveita! Tem ainda chamada para capítulo de livro sobre Caco Barcellos (22/10), temas livres na revista Estudos em Jornalismo e Mídia (sem prazo), dossiê sobre jornalismo como forma de conhecimento (15/09), futebol e jornalismo (30/11), democracia e radiojornalismo (31/01/22).
Esperançosos pelo fim da pandemia,
Dairan Paul
e
Rogério Christofoletti
fizeram mais esta newsletter. A próxima edição chega em 8 de setembro. Quem sabe até lá as coisas melhoram...
Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.