Parem de atirar nos mensageiros!
Edição 114: mais violência + mais escândalos do Facebook + consumo de notícias por jovens
Olá, assinante!
Ontem foi o Dia Internacional de Combate à Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, data que parece piada num país que assiste passivamente à perseguição daqueles que se arriscam para informar a sociedade.
Por aqui, fanáticos violentos atacam a sede de uma editora porque discordam da capa de uma revista, e tem até deputado acusado de sequestro e tortura de jornalista. Por aqui, repórteres são constrangidos, ofendidos e ameaçados por quem deveria lutar por direito e justiça. E mesmo quando não estão dentro do país, correm riscos, sofrendo agressões físicas por agentes do Estado ou a mando do presidente da República.
As entidades de classe empilham notas de repúdio nas mesas das autoridades. Denúncias são feitas aos órgãos judiciais e nada é feito. Se o cerco violento ao jornalismo já indigna, a impunidade desses crimes enoja e revolta.
Na América Latina, a liberdade de imprensa vive um tempo sombrio. Na Inglaterra, Julian Assange enfrenta um tribunal que pode determinar sua extradição aos Estados Unidos, causando efeito devastador no mundo. Se o líder do WikiLeaks — que ajudou a revelar informações de interesse público global — for condenado, nenhum jornalista estará a salvo para denunciar abusos de governos, corporações e impérios.
As sociedades e as instituições precisam proteger os jornalistas, impedir que sejam caçados e punir seus agressores. Em nome da lei, da democracia e da civilização.
COMUNICAÇÃO PÚBLICA
O 1º Congresso Brasileiro de Comunicação Pública, Cidadania e Informação chegou ao fim com um saldo bem positivo, segundo os organizadores. O documento final — a Carta Goiás — aponta 14 objetivos para fortalecer a comunicação pública no país e estabelecer garantias, parâmetros éticos e condições de trabalho. Uma minuta de projeto de lei sobre o tema está em consulta pública até o dia 20.
A 2ª edição já tem data e sede: outubro de 2023 em Pernambuco.
LEMBRA DA CPI?
Você já sabia, mas não custa repetir: revelações jornalísticas ajudaram a embasar o relatório final da CPI da Covid. E ajudaram também a desmascarar fanáticos, mentirosos compulsivos e outros animais da fauna que frequentaram as sessões da Comissão no Senado. Segundo levantamento da Lupa, os depoentes fizeram mais de 60 declarações falsas na frente das câmaras!
A equipe do objETHOS acompanhou a CPI com um olhar atento às estratégias e repercussões midiáticas. Afinal, como diz a Vitória Ferreira, precisamos unir esforços contra a desinformação. Publicamos 16 textos sobre o tema e se você perdeu algum, não se preocupe: sirva-se por aqui.
É difícil dizer no que vai dar a CPI, mas arriscamos alguns legados midiáticos.
O QUE IMPORTA MESMO?
Facebook — a empresa — mudou de nome, mas isso pouco ou nada nos afeta. O que interessa mesmo é o conjunto esmagador e alarmante das revelações dos Facebook Papers, com base em documentos vazados para um punhado de meios jornalísticos. O Farol Jornalismo fez uma excelente curadoria sobre o tema, e o Rodrigo Ghedin, do Manual do Usuário, chamou a atenção para a quantidade de redações que fizeram vista grossa pro escândalo. Tem também este listão do Poder360 de coisas publicadas sobre os Facebook Papers, e este do Núcleo. Aliás, Laís Martins e Alexandre Orrico também mastigaram o escândalo.
Não dá pra dizer que não sabe de nada. A não ser que você só se informe pela rede de Zuckerberg…
PS: No Washington Post, Paul Farhi chama a atenção para o consórcio criado para publicar os Facebook Papers e como isso afeta o jornalismo investigativo colaborativo.
SEM RECREIO
Mais uma quinzena, mais três destaques do jornalismo independente que chamaram a nossa atenção:
Os crescentes casos de assédio judicial contra mulheres que denunciam estupros silenciam tanto vítimas quanto jornalistas. Reportagem publicada no Portal Catarinas.
Três meses de investigação resultaram no especial “Sem Recreio” do projeto Lição de Casa. A série conta a realidade de crianças brasileiras que não conseguiram acesso às aulas remotas e, em muitos casos, acabaram empurradas para o mundo do trabalho infantil.
No podcast Sul Realista, uma conversa com o jornalista Vagner Campos sobre o surgimento de células neonazistas em Santa Catarina.
RADAR
E se você morasse em uma cidade sem nenhum portal de notícias ou com baixa oferta de informação? Esse é o caso de três municípios paraenses da região Amazônica. Medicilândia e São Sebastião da Boa Vista têm poucos canais de TV aberta e rádios comunitárias; em Água Azul do Norte, é preciso sintonizar emissoras vizinhas porque não há nenhuma com sede local.
São municípios com menos de 50 mil habitantes, baixo IDH e população de área rural maior que a urbana. Todos têm cobertura de pelo menos uma operadora de celular com sinal 3G. Não há bancas de revista nas cidades, mas elas ainda contam com lan houses.
Foi neste contexto que a pesquisadora Netília Seixas investigou como os jovens de lá consomem informações. Por meio de 30 entrevistas, ela descobriu que praticamente todos são donos de smartphones e utilizam as mídias sociais para se manterem informados. Também visitam sites de cobertura nacional, como G1 e R7, e assistem à televisão. Revistas, jornais impressos e rádio são os meios menos procurados.
Apesar da baixa oferta local de informação, a maioria percebe diferenças entre um conteúdo repassado por qualquer pessoa e uma informação jornalística, veiculada por meios credíveis. Chamou a atenção da pesquisadora que jovens recorrem a fontes consideradas por eles como confiáveis quando têm dúvida sobre a veracidade de algum conteúdo. Procurar a publicação em outros meios jornalísticos ou confirmá-la com professores são exemplos das estratégias que adotam.
O texto de Seixas resulta do seu estágio de pós-doutorado e faz parte do e-book “Jovens em redes sociotécnicas: aspectos múltiplos”, que organiza junto de Nilda Jacks e Vitor Braga. Baixe!
JORNALISMO CIENTÍFICO
You Li destaca o papel cívico e comunitário do “jornalismo de soluções” na cobertura sobre a Covid em 25 países.
Quais as condições de trabalho, os desafios e a atmosfera de atuação dos jornalistas científicos no mundo? Descubra neste report, que foi coordenado pela brasileira Luisa Massarani.
Disponível para download o e-book “Narrativas midiáticas contemporâneas: perspectivas protagonistas”, com prefácio de Cremilda Medina.
SECOS & MOLHADOS
Presentão da Abraji para jornalistas e pesquisadores: transcrição de 99 lives do presidente Jair Bolsonaro.
Não é sempre que você lê isso: para fazer pressão por reajuste salarial, 200 jornalistas de São Paulo aprovaram em assembleia uma paralisação no dia 10.
Sindicatos de SP, RJ e DF ingressaram com uma ação civil pública para impedir a privatização da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Uma aula de reportagem com os vencedores do 3º Prêmio Livre.jor de Jornalismo-Mosca, incluindo comentários dos autores e da banca julgadora.
Descentraliza é uma newsletter que mapeia trabalhos de jornalistas das cinco regiões do país. Na edição 14, um tema delicado: como abordar assuntos que requerem cuidados extras, como suicídio, desigualdades, aborto e racismo?
Dá pra cobrir a extrema direita sem normalizá-la? Para Ricardo Fernandes, o jornalismo português ainda não trouxe uma resposta à altura desse desafio.
Parece montagem fotográfica… e é! Mas não precisava ser…
Influencer: Bolsonaro barra abertura de capital estrangeiro na mídia. Segundo a Folha, a pedido de Edir Macedo.
Quando a publicidade se faz passar por jornalismo. Direto do Consultório Ético.
Dicas de Samuel Ketch sobre mídia e relacionamento: construa uma comunidade e não uma audiência (em inglês).
Sérgio Spagnuolo dá a real sobre jornalismo e transparência.
O que os códigos de ética falam da crise de saúde pública? Os autores de uma pesquisa explicam de forma resumida (em espanhol)
Coalizão Direitos na Rede lançou nota técnica avisando dos perigos de vigilância em massa no PL das Fake News.
Por falar no diabo, revista ComCiência publicou dossiê sobre fake news.
Facebook não é só ruim pra sua saúde mental. Um estudo mostra que ele também prejudica a distribuição de notícias locais…
AGENDE-SE
Lembra do curso gratuito sobre jornalismo científico do Knight Center? Os módulos já começaram, mas você ainda pode se inscrever.
O 1º Encontro Regional de Jornalistas do Nordeste acontece de 19 a 21 de novembro. Entre os convidados, estão profissionais (Joaquim de Carvalho e Jana de Sá) e pesquisadores (Helena Martins e Rafael Rodrigues), além da presidenta da Fenaj, Maria José Braga. Inscreva-se e confira a programação.
Ainda dá tempo, até 20/11, para submeter capítulo a um e-book sobre comunicação pública, cidadania e informação.
A revista Estudos de Jornalismo e Mídia prepara dossiê em homenagem às contribuições do professor Nilson Lage. Um dos editores convidados é Samuel Lima, pesquisador do objETHOS. Envio de artigos até 07/02/22.
Quase chegando ao fim algumas chamadas que estão há algum tempo por aqui: formação universitária de comunicadores (Contratexto — 15/11), jornalismo e empreendedorismo (Brazilian Journalism Research — 30/11), jornalismo e futebol (Mediapolis — 30/11), jornalistas e construção midiática dos problemas públicos (Sur le journalisme— 01/12).
Já essas aqui ficam para 2022: economia política da informação (Eptic — 10/01/2022), democracia e cidadania (Esferas — 31/01), ética da comunicação digital (Revista Mediterránea de Comunicación — 01/03), jornalismo e sociedade (Media & Jornalismo — 31/03)
Dairan Paul e Rogério Christofoletti não respeitaram o dia santo e produziram mais esta newsletter. A próxima virá depois de outro feriado, mas não imediatamente... até 17 de novembro!
Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.