Não perca este PL de vista!
Edição 115: Fake News + Marília Mendonça + leitores da mídia alternativa
Olá, assinante!
A menos de um ano das eleições, o Congresso corre para aprovar leis antes que a campanha comece pra valer. Um desses projetos é o nº 2630/2020, apelidado de PL das Fake News, e que quer criar a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. A ideia é regular um pouco as big techs, colocar travas nos disparos em massa e evitar espalhamento de desinformação. Mas não só!
Há quem queira afrouxar a regra, e quem trabalhe pra enfraquecer o Comitê Gestor da Internet. Existem aqueles que querem colocar mentiroso na cadeia e outros que querem morder um naco da publicidade digital.
Ficar de olho agora é essencial, pois o projeto está quase indo a plenário. A Coalizão Direitos na Rede — que reúne dezenas de entidades da sociedade, inclusive o objETHOS — lista 8 pontos do PL que merecem atenção. Jonas Valente, da Intervozes, alerta para o lobby das empresas. Fenaj, ABI, Abraji e outras entidades querem rediscutir melhor a sustentabilidade do jornalismo nas plataformas.
O que este assunto está fazendo numa newsletter sobre ética jornalística? Ora! Se estamos debatendo as regras de convívio no ambiente digital, estamos também discutindo papéis, relacionamentos, disputa, hegemonia, valores, sobrevivência…
MARÍLIA E A MORTE DO JORNALISMO
A trágica e inaceitável morte de Marília Mendonça foi também um festival de mau jornalismo. Teve desinformação, péssimo gerenciamento de crise, sensacionalismo e até distribuição gratuita de preconceito… Como escreveu nossa pesquisadora Sylvia Moretzsohn, é praticamente inevitável fazer uma cobertura comovida diante de uma perda tão comovente. Mas Sylvia aproveita o episódio para tratar de outros sintomas sociais que emergiram nas redes sociais, como a arrogância de quem ignorava a cantora e as bolhas sociais que só aumentam o fosso que nos separa.
A partir de uma polêmica coluna, Vanessa da Rocha, também pesquisadora no objETHOS, critica o machismo que molda as estruturas mentais dos profissionais da imprensa. Uma postura que não deixa em paz nem mesmo os corpos sem vida.
RADAR
Quem é o leitor da mídia alternativa e por que ele consome esse tipo de conteúdo? Três pesquisadores tentaram responder a essa pergunta a partir de um estudo longitudinal com quase 3.400 participantes. Foi realizado na Suíça, país que registra crescimento de sites alternativos de direita, além daqueles identificados com movimentos sociais e causas progressistas.
Confira os principais resultados:
o perfil dos consumidores mais assíduos de meios alternativos é formado sobretudo por homens jovens, com baixo nível educacional, alto interesse em notícia e consumo via mídias sociais. Pessoas mais velhas têm menor propensão a buscar essas organizações.
quanto mais frequente é o acesso aos alternativos, menor é o índice de confiança na mídia tradicional. Este grupo também é cético quanto às instituições políticas e sociais do país.
meios alternativos não substituem plenamente os tradicionais. São um complemento. Mesmo desconfiando da mídia mainstream, o público-leitor dos alternativos mantém o hábito de consumi-las.
O artigo de Kim Andersen, Adam Shehata e Dennis Andersson está disponível na revista Digital Journalism, em acesso aberto. Leia aqui!
MAIS DOS ALTERNATIVOS
Falando em jornalismo alternativo e independente, este e-book organizado por Roseli Figaro e Claudia Nonato mapeia a organização, sustentação e as rotinas produtivas de diversas experiências do tipo nas cinco regiões do país. Baixe!
Tem ainda o novo relatório do SembraMedia sobre meios digitais nativos da América Latina, Sudeste Asiático e África. Punto de Infléxion Internacional analisa o modelo de negócio dessas organizações, como são compostas as equipes de trabalho e o nível de segurança dos jornalistas que atuam nela, entre outros temas.
Precisando de uma ajudinha na metodologia? Este novo manual sobre análise de conteúdo pode ser bastante útil. Autoria de Rafael Cardoso Sampaio e Diógenes Lycarião.
Mais um manual! Desta vez sobre edição em jornalismo científico. É do Knight Science Journalism Program, do MIT, e está em português. Só faltou aquele capítulo sobre ética jornalística…
Saiu um relatório sobre desinformação do Aspen Institute, nos EUA.
SECOS & MOLHADOS
A liberdade de imprensa padece na América Latina. Argentina, México e Brasil tiveram os piores retrocessos no índice da Sociedad Interamericana de Prensa (SIP). Aliás, os dois últimos voltaram ao Índice Global de Impunidade do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ). Que fase!
Aliás, desde 1990, quase 2 mil jornalistas foram mortos em serviço no mundo.
Jornalistas brasileiros continuam sendo hostilizados, dentro e fora do país.
Lúcio Flávio Pinto é um doutor-jornalista, e isso não é só um jeito de dizer.
Natália Leal, da Lupa, recebeu o Prêmio Knight Internacional de Jornalismo, e vai dividi-lo com a jornalista tcheca Pavla Holcová.
Repórteres Sem Fronteiras anuncia amanhã os vencedores de seu prêmio de liberdade de imprensa e The Intercept Brasil está na parada, concorrendo na categoria Impacto. Aliás, o livro do TIB sobre a Vaza Jato também é finalista no Prêmio Jabuti. Que momento!
Na GloboNews, Lilian Ribeiro emociona e lembra: jornalista também é gente…
No Poynter, o caso de uma geração de estudantes de jornalismo que está desafiando a ética tradicional da indústria jornalística.
Na Inglaterra, o Reuters Institute publicou estudo sobre mudanças nas redações provocadas pela pandemia: resumo em espanhol.
Na Espanha, o governo editou um decreto sobre direitos autorais na internet. Com isso, cria um direito conexo para a imprensa que permitirá acordos com as big techs e pagamentos por conteúdos jornalísticos. Vale acompanhar…
No Brasil, o governo usa a Lei Geral de Proteção de Dados para negar informações de interesse público para cidadãos e jornalistas.
Perdeu alguma mesa do congresso promovido pela SBPJor na semana passada? Várias delas estão disponíveis aqui.
Um mea culpa raro de se ver por aí: Núcleo Jornalismo reviu sua cobertura sobre o Facebook Papers e martelou que colaboração entre jornais é mais importante do que ineditismo.
O 2º Prêmio Neusa Maria de Jornalismo, que premia repórteres trans e não-brancos, precisou ser adiado por falta de verba. Anunciantes, cadê vocês?
Mais de 350 jornalistas de redações como Folha, Estadão e Valor Econômico paralisaram contra o arrocho salarial. Até o presidente ficou incomodado com a mobilização...
AGENDE-SE
Estamos na semana do Festival Gabo. Não perca pela internet!
Hoje, às 19h, tem debate sobre o papel dos observatórios na formação de redes contra a desinformação, no YouTube da RNCD. O objETHOS estará lá.
Amanhã, 18, tem lançamento da WikiLAI, portal com tutoriais e explicações para acessar informações públicas no Brasil. É pra celebrar os 10 anos da Lei de Acesso à Informação, e quem lidera é nossa parceira Fiquem Sabendo.
Transmissão hoje e amanhã à tarde do II Encontro do Centro Internacional de Ética da Informação — Capítulo América Latina e Caribe. Diagnósticos da desinformação e ações de combate serão os temas. Acompanhe no YouTube e inscreva-se para receber certificado.
O 1º Encontro Regional de Jornalistas do Nordeste acontece nesta semana: de 19 a 21. Entre os convidados, estão profissionais (Joaquim de Carvalho e Jana de Sá) e pesquisadores (Helena Martins e Rafael Rodrigues), além da presidenta da Fenaj, Maria José Braga. Inscreva-se e confira a programação.
Como se proteger de ataques online? A Fenaj está oferecendo curso gratuito sobre isso e você tem até dia 25 para se inscrever.
A VII Conferência do Pensamento Comunicacional Brasileiro (Pensacom) recebe resumos expandidos até 29 de novembro. O evento será de 6 a 8 de dezembro, com inscrições gratuitas e apresentações virtuais. Artigo completo só em fevereiro do próximo ano.
Que tal um simpósio sobre experiências metodológicas em comunicação? O POSCOM da UFRGS realizará nos dias 8 e 9 de dezembro o I Simpósio de Experiências Metodológicas na Comunicação. Fazem parte da programação nomes como Jose Luiz Braga, Jiani Bonin, Rosane Borges, Nilda Jacks, Luís Mauro Sá Martino e Maria Immacolata Vassalo Lopes.
Em maio de 2022 acontece o 5º Simpósio Nacional do Rádio, com o tema “A mídia sonora na disputa pela legitimidade da informação”. Quer apresentar trabalho por lá? Envie o seu resumo expandido até 28 de fevereiro.
No periódico Comunicar, chamada de artigos sobre o tema “sociedade da desinformação” com prazo até 30 de dezembro.
A revista Estudos de Jornalismo e Mídia prepara dossiê em homenagem às contribuições do professor Nilson Lage. Um dos editores convidados é Samuel Lima, pesquisador do objETHOS. Envio de artigos até 7 de fevereiro.
Estão quase no fim essas chamadas: jornalismo e empreendedorismo (Brazilian Journalism Research — 30/11), jornalismo e futebol (Mediapolis — 30/11), jornalistas e construção midiática dos problemas públicos (Sur le journalisme— 01/12).
Essas já passaram por aqui e são pra 2022: economia política da informação (Eptic — 10/01/2022), democracia e cidadania (Esferas — 31/01), imaginários, identidades e o bicentenário da independência do Brasil (Mídia e Cotidiano — 21/02), ética da comunicação digital (Revista Mediterránea de Comunicación — 01/03), jornalismo e sociedade (Media & Jornalismo — 31/03)
Dairan Paul & Rogério Christofoletti assinam mais esta edição. A próxima chegará em 1º de dezembro. Será a última de 2021, e você não precisa esconder que gostou de saber disso...
Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.