Vai desafiar a pandemia pra cobrir eleições?
Edição 89: orientações para o período eleitoral + leve a LAI até sua cidade + jornalistas escutam o público... em teoria
Olá, assinante!
Já estamos na primavera e outubro começa amanhã. Este ano bagunçou completamente os nossos relógios biológicos e a própria noção de tempo. Por isso, daqui pra frente, podemos esperar que 2020 desembeste feito cachorro que escapa da coleira. Toda pressa será pouca porque vamos querer compensar os períodos de confinamento e as muitas expectativas que criamos.
Como domar essa ansiedade toda, jornalista? Com coragem!
Afinal, muitos aí não poderão terminar o ano sem cobrir as eleições municipais, desviando de candidatos caricatos, plataformas eleitorais fantasiosas e gente realmente compromissada. Separar o joio do trigo, e publicar o trigo. Não é isso que jornalista faz?
CORRIDA COM OBSTÁCULOS
Quem cobre a coisa já fareja as dificuldades de fazer jornalismo em situações tão peculiares. A campanha vai ser curta, não haverá rios de dinheiro, e os candidatos tentarão fazer corpo-a-corpo com o eleitor, mesmo precisando evitar aglomerações sociais. Também à distância, as redações — cada vez mais enxutas — precisarão captar as reivindicações populares num momento de descrédito das instituições e de nojo à política tradicional.
Os meios mais acostumados já se organizam para a corrida, instruindo seus profissionais sobre limites para coligações, por exemplo. Preocupada com deslizes dos jornalistas, a Comissão de Ética do Sindicato de Santa Catarina emitiu uma nota para orientar os profissionais. Na verdade, os cuidados são tão amplos que podem ser adotados em qualquer cidade ou estado…
Precisa de mais dicas? Sugerimos também o manual para cobertura das eleições municipais, disponibilizado pelo Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo), em parceria com o Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). O guia contém diretrizes éticas para jornalistas, recomendações sobre métodos de apuração, boas práticas e diversidade de vozes, entre outros tópicos.
TRANSPARÊNCIA NAS CIDADES
O Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas e o projeto Mudamos, do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, aproveitaram uma data simbólica para lançar uma campanha de incentivo à regulamentação da Lei de Acesso à Informação (LAI). A segunda, dia 28, foi o dia internacional de acesso universal à informação, e não haveria melhor momento para apresentar um site e um aplicativo que ajudam qualquer pessoa a criar e apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para regulamentar a LAI na sua cidade.
Para jornalistas, que vivem implorando por dados e informações, é uma mão na roda…
TRANSPARÊNCIA NO JORNALISMO
Se você é jornalista profissional, hoje é o último dia para participar da pesquisa Transparência no Jornalismo. Desenvolvida por pesquisadores do objETHOS e financiada pelo CNPq, a pesquisa quer captar as impressões dos profissionais sobre o tema. Quem responde ao questionário ganha um presentinho no final.
Tem um tempinho aí pra participar?
A COZINHA NÃO PARA
Na última quinzenal, abastecemos nosso site num ritmo alucinante. Não conseguiu passar por lá? Calma que a gente te ajuda!
Uma das lendas vivas do jornalismo norte-americano pisou feio na bola. Sylvia Moretzsohn colocou os pingos nos is no caso Woodward-Trump.
A Folha de S.Paulo faz parte do projeto Credibilidade e adota seus indicadores de qualidade editorial. Às vezes, a coisa falha. É o que aponta a Denise Becker.
Se a qualidade do jornalismo é resultado das condições de trabalho dos jornalistas, e se o jornalismo afeta a todos, talvez a precarização dessas condições deva preocupar mais gente. Andressa Kikuti Dancosky escreveu sobre isso.
Fechamos mais uma leva de entrevistas especiais sobre Covid-19 e jornalismo. Conversamos com Luiza Caires, do Jornal da USP, com a ombudsman da Folha, a Flavia Lima e com a Nataly Simões, editora do Alma Preta.
Pra fechar: sabe quem esteve de aniversário no mês de setembro? Nós! Sim, o objETHOS completou 11 anos de existência. Quer aproveitar e sugerir algum conteúdo para abordarmos em nosso site, nesta newsletter ou apenas tecer um comentário? É só escrever pra gente: objethos@gmail.com.
RADAR
Fortalecer o jornalismo local é uma aposta de especialistas para qualificar as informações. Significa estreitar laços com uma comunidade, envolvê-la na produção de notícias e promover novos pactos de confiança e empatia. No objETHOS, já tratamos disso em entrevista com Jeff Jarvis, e na dissertação de mestrado do pesquisador Evandro de Assis.
Mas quantos jornalistas estão realmente dispostos a ouvir seu público?
Poucos, na verdade. Ao menos é o que demonstra o estudo de Pedro Jerónimo, João Carlos Correia e Anabela Gradim com profissionais portugueses, publicado na Journalism Practice. Jornalistas até reconhecem a importância de estarem próximos da audiência, mas dificilmente colocam o discurso em prática.
Não é apenas uma questão de vontade, claro. Falta de tempo e de recursos humanos são variáveis que interferem em produções colaborativas com as comunidades. Informações apuradas pelas audiências também são vistas com desconfiança pelos jornalistas, o que os leva a questionar sua confiabilidade. Como consequência, deixam de incorporá-las nos jornais.
A conclusão? Mesmo entre jornalistas que valorizam a proximidade do jornalismo local, o público é visto antes como fonte do que como co-produtora de notícia.
O CAMPEÃO DE CITAÇÕES
O Segredo da Pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo é o texto mais citado no grupo de trabalho sobre jornalismo da Compós. Não conhece a obra clássica de Adelmo Genro Filho? Está disponível na íntegra aqui.
O adoecimento mental de estudantes universitários narrado pelos jornais desconsidera contextos políticos e socioeconômicos. Um alerta para os efeitos epidêmicos de suicídio na mídia. Dois destaques na edição mais recente da revista Reciis.
Uma dissertação discute o “problema do mal” no jornalismo e a prevalência de notícias negativas. Indicação da newsletter Periódica, da jornalista Luiza Bodenmüller. Assine!
E-book sobre jornalismo e guerra de memórias nos 50 anos do golpe de 1964.
SECOS & MOLHADOS
Perdeu a última edição do GJOL Cast sobre eleições em tempos de pandemia? Pesquisadoras e jornalistas de Folha e Estadão discutiram as dificuldades da cobertura neste ano atípico.
Também indicamos esta live sobre competência em informação na sociedade da desinformação, com Marco Schneider e Pablo Bastos. Promoção do IBICT.
Tuitar é perigoso: Ricardo Noblat se tornou alvo de inquérito da Polícia Federal após ironizar Jair Bolsonaro na rede do passarinho azul.
O colombiano Pedro Vaca Villarreal é o novo relator especial para liberdade de expressão da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ele vai substituir o uruguaio Edison Lanza, que ficou no posto desde 2014.
Uma aliança com mais 30 projetos espalhados pelo país lançou a Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNDC). A iniciativa vai checar dados, produzir conteúdos informativos e produzir contra-narrativas para desmentir informações fraudulentas e outras pragas. Confira aqui. O objETHOS é parceiro na RNDC!
Jornais faturam com anúncios picaretas disfarçados de notícias. A patada é do João Filho, no The Intercept Brasil.
Aliás, se não deu pra perceber ainda, esses professores da Unicamp explicam por que existe e como funciona o ecossistema da desinformação.
Como a ética jornalística pode ajudar a combater as fake news? Uma pesquisa da Universidade de Salamanca (Espanha) tenta explicar.
O Google anunciou apoio à imprensa, mas ainda refuta a ideia de remunerar veículos jornalísticos pelo uso de matérias…
Nossos parceiros da Red Ética Segura estão celebrando 20 anos do Consultório Ético da Fundacion Gabo. Que marco!
Tá rolando censura na EBC. Sindicato, Fenaj e trabalhadores fizeram mais um dossiê sobre isso.
A crise na Editora Abril fez o jornalista André Rizek pagar mais uma indenização em ação perdida. A corta arrebenta onde mesmo?
E pra terminar: Antônia Fontenelle pulou a faculdade, mas ganhou carteirinha de jornalista em São Paulo. Vem logo, meteoro!
AGENDE-SE
Os prestigiados seminários do Reuters Institute vão abordar a Covid-19 e a diversidade. Os eventos começam no dia 7 e vão até dezembro. Confira!
Que tal participar de uma live sobre desafios éticos na cobertura de temas como justiça racial? O Centro de Ética Jornalística da Universidade de Wisconsin-Madison promove a conversa com Wesley Lowery, repórter da CBS News. Será também em 7 de outubro e é aberta.
Sorte do dia: você pesquisa jornalismo e experimentações? Em caso positivo, a chamada do próximo dossiê organizado pela Brazilian Journalism Research é do seu interesse. Prazo: 30 de novembro.
Mas se você estuda reportagens de guerra, o número temático da Sur le journalisme está mais próximo de você. A data, também: até 1º de novembro.
Seu campo de pesquisa está nas representações do jornalismo em ficções? Discurso de jornalistas sobre si? Credibilidade, identidade profissional? Boas novas: este dossiê da portuguesa Mediapolis foi feito para você. Prazo: 10 de janeiro de 2021.
Kyle Pope, editor da Columbia Journalism Review, fará a palestra de abertura do 4º Seminário Internacional de Jornalismo, da ESPM. O evento é em 6 de outubro e terá mesa de debate com profissionais do mercado. Inscreva-se gratuitamente.
Já divulgamos por aqui, mas não custa reforçar: de 6 a 9 de outubro ocorre o webinário “Desinformação no Nordeste: desafios e oportunidades para o jornalismo”. Gratuito, online e com programação imperdível.
Dairan Paul
e
Rogério Christofoletti
martelaram as teclinhas em mais esta edição da
newsletter
. A próxima? Em 14 de outubro!
Este é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.