Para fugir do pega-pega, o governo vai de esconde-esconde
Edição 122: as ameaças não param, as notícias cansam e o jornalismo insiste
Olá, assinante!
Na metade de maio, a Lei de Acesso à Informação (LAI) completa 10 anos de vigência, e para o governo Bolsonaro isso não significa nada. Tanto é que ele vem repetidamente usando outra lei — a de proteção de dados — para demolir a regra de transparência pública. Não é à toa que as negativas de pedidos de informação cresceram 663% na gestão do Jair, segundo dados do Painel de Acesso à Informação, mantido pela Controladoria Geral da União (CGU)!
O esconde-esconde é descarado, e o Durma Com Essa, podcast do Nexo, até fez uma listinha do que não querem que você saiba do presidente. O apagão de dados em outras áreas vem preocupando entidades como a Artigo 19, e especialistas chamam a atenção para manobras jurídicas para ocultar doadores de campanha - e estamos em ano eleitoral, lembra?
Por isso, foco total na transparência e no direito social à informação. Se querem preservar suas privacidades, ocupantes de cargos e funções públicas devem seguir o conselho do jornalista Leonardo Sakamoto: renunciar.
TEMPO DE VIOLÊNCIA
Depois de Fenaj e Abert, agora foi a vez da Abraji também publicar um relatório de ataques aos jornalistas. Pelas contas da entidade, foram 453 agressões em 2021. Não estão no documento os atos de violência mais recentes, como a campanha do vereador Gabriel Monteiro contra jornalistas e os ataques do empresário Luciano Hang a um fotógrafo que mostrou seu ônibus em local irregular.
Em Brasília, o repórter da TV Globo Gabriel Luiz foi esfaqueado brutalmente. Pode ter sido mais uma tentativa de assalto, mas como saber em meio ao clima hostil que o país alimenta contra jornalistas?
» objETHOS e FENAJ preparam um dossiê que mostra como a violência contra o jornalismo vai além dos riscos aos profissionais da imprensa e afeta os direitos das pessoas em sociedade. Sai no início de maio. Aguarde.
PUBLICAMOS
Nas duas últimas semanas, abastecemos nosso site com novos conteúdos:
Sílvia Meirelles Leite chamou a atenção para a necessidade de direcionar notícias para os jovens. Alcançar essas audiências vai além do uso das mídias sociais.
Em participação especial, Matheus de Moura escreveu sobre fotos de adolescentes sendo abordados por policiais na capa da Folha de S.Paulo. Tem tanta coisa complicada ali…
Sylvia Debossan Moretzsohn traça uma ponte entre a alegoria da caverna de Platão e a Guerra na Ucrânia bem diante de nossos olhos incrédulos.
PENSATA
“A dimensão humanística do jornalismo é tratar de fazer o mundo mais compreensível. Se nos compreendemos, somos menos inimigos; se nos conhecemos, ficamos mais próximos uns dos outros. A experiência de tantas guerras e revoluções que vivi me ensinaram que muito do ódio, do conflito, da inimizade surgem de não nos conhecermos”
Ryszard Kapucinski, jornalista
RADAR
Muitas vezes jornalistas se veem obrigados a cobrir o mesmo tema por dias, semanas ou até meses a fio. Um exemplo recente é a pandemia, figura diária há pelo menos dois anos no noticiário.
Mas como o fluxo contínuo de informações sobre uma única pauta é visto pelo leitor?
Este artigo questiona se há uma relação de causa entre a fadiga informacional e a avaliação negativa do público sobre coberturas jornalísticas prolongadas. A pesquisadora Gwendolin Gurr escolheu a saída do Reino Unido do Brexit, assunto que rendeu quatro meses de cobertura da imprensa suíça, e aplicou três rodadas de questionários online com leitores daquele país.
O cruzamento de dados na análise estatística sugeriu três conclusões:
(1) leitores que estão mais cansados das contínuas matérias envolvendo o Brexit tendem a avaliar negativamente a qualidade da cobertura midiática;
(2) essa avaliação não se estende à mídia de forma geral;
(3) sujeitos mais afetados pelo Brexit demonstram maior hostilidade contra a cobertura, acusando-a de parcial.
Em resumo, Gurr conclui que a cobertura exaustiva sobre determinados temas, de fato, influencia juízos negativos por parte dos leitores. Com um adicional: isso ocorre até mesmo em um país que registra altos índices de confiança na imprensa, caso da Suíça. Já pensou como seria aqui?
MEDO E CONFIANÇA
Entediantes, repetitivas, negativas e desconectadas da juventude: as percepções de um grupo de adolescentes sobre as notícias.
A máxima de que a transparência pode restaurar a credibilidade do jornalismo é problematizada a fundo no artigo de Lauri Haapanen.
Pesquisadores investigaram o cotidiano de duas organizações holandesas para entender como a confiança e o medo estimulam (ou não) a troca de ideias criativas e inovadoras entre jornalistas e seus chefes.
Jornalistas brasileiros especializados em dados enxergam o seu trabalho como disruptivo porque introduzem valores hackativistas ao jornalismo. No entanto, entendem que a base ideológica da profissão deve permanecer inalterada. Pesquisa de Fábio Henrique Pereira e Bruna Mastrella.
Editado pelo Laboratório de Políticas da Comunicação (UnB), a nova edição dos Cadernos de Conjuntura das Comunicações traz análises sobre o avanço do PL das Fake News, ataques à comunicação pública e os dez anos de vigência da Lei de Acesso à Informação.
As disputas políticas e econômicas que marcaram a implementação da TV digital no Brasil são esmiuçadas por Patrícia Maurício em ebook relançado pela editora PUC-Rio.
Francisco Sant'Anna é autor de pesquisa sobre a influência de fontes no trabalho de jornalistas que cobrem o Congresso Nacional.
SECOS & MOLHADOS
Não conseguimos mandar ninguém para Perugia nem Austin. Por isso, sugerimos esse resumão do Farol sobre o ISOJ e o International Festival of Journalism.
Por falar no evento da Itália, que tal ver este painel sobre mudanças na ética jornalística em plena pós-verdade? Tem Ros Atkins, Emily Bell e Errin Haines.
A Folha de S.Paulo “matou” a rainha da Inglaterra; The Guardian repercutiu; e o ombudsman da própria Folha naturalizou o erro. Vai acontecer de novo? Cer-te-za!
No Amazonas, surgiram dois selos de qualidade jornalística. As iniciativas vêm provocando ranger de dentes…
Lume é um agregador e curador de notícias que promete jornalismo acessível de nove meios independentes do Nordeste. Baixe!
Aliás, já acessou o mapa da comunicação popular de Pernambuco feito pela Marco Zero?
Aproveite e faça download dessas dicas de ética jornalística produzidas por jornalistas do sudeste europeu. Útil também para jornalistas brasileiros!
Estamos a seis meses das eleições e o jornalismo nacional não pode deixar de lado uma importante função: servir de memória da sociedade.
Knight Center publica série de artigos sobre mecanismos de proteção de jornalistas na América Latina.
Quer ampliar e qualificar a cobertura de temas ambientais? Baixe o novo guia produzido pelo veículo independente ((o))eco.
E o Santos Futebol Clube que impediu credenciamento de jornalistas do UOL após ficar revoltado com uma coluna de Juca Kfouri! Chama censura, né?
Perdeu a conferência sobre enfrentamento ao racismo no jornalismo ministrada pela professora Bianca Santana? Confira no canal do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC.
AGENDE-SE
Jornalistas, estudantes e professores, que tal um workshop gratuito ensinando como utilizar a Lei de Acesso à Informação? Será no próximo dia 28, das 14h às 15h30, com Taís Seibt, da agência Fiquem Sabendo.
As relações entre comunicação, religião e valores contemporâneos serão tema da revista Líbero. Envie artigo até 30/04.
Fique atento ao prazo de submissão de trabalho para os eventos que já mencionamos na newsletter: TeleVisões (28/04), ALAIC (20/05), 7º Congresso de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público (09/05).
Além dos congressos, outras chamadas de dossiês que já passaram por aqui: homenagem ao professor Ciro Marcondes (Paulus — 30/04), mitologias na atividade jornalística (Esferas — 30/04), reportagem em quadrinhos (Sur Le Journalisme— 15/05), políticas de comunicação (Eptic — 30/05), desinformação (Culturas Midiáticas — 30/06).
Esta foi mais uma newsletter produzida por Dairan Paul & Rogério Christofoletti.
A próxima chega em 4 de maio: RE-CE-BA!
Esta é uma realização do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.