Esperança no combate à violência contra jornalistas
Edição 126: Bolsonaro condenado + revitimização no jornalismo + temporada de prêmios jornalísticos
Olá, assinante!
No dia 7 de junho, o presidente da República sugeriu fechar a mídia brasileira. Os ataques de Bolsonaro ao jornalismo são tantos que o caso poderia ter passado batido. Foi noticiado porque aconteceu no Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, na mesma data em que uma sentença da 24ª Vara Cível de São Paulo trouxe uma lufada de esperança para quem não se conforma com tanta violência e desrespeito. O presidente foi condenado por dano moral coletivo à categoria dos jornalistas e, se mantida a condenação (cabe recurso), deve pagar R$ 100 mil de indenização mais as custas do processo e honorários advocatícios.
A decisão mostra que a justiça está atenta à asfixiante atmosfera de perseguição aos jornalistas. A sentença da juíza Tamara Hochgreb Matos é contundente e mostra o caminho para novas ações judiciais. As jornalistas Bianca Santana e Patrícia Campos Mello já tinham ganho processos contra Bolsonaro, mas a vitória da semana passada é gigante. Quantas vezes você viu um presidente da República no exercício de mandato ser condenado por dano moral a uma categoria profissional inteira?
Se denunciar crimes e violações não move as autoridades, arrastar os agressores para o banco dos réus pode ser um caminho.
Ó, SENHORA LIBERDADE!
Como a violência contra jornalistas não para, não deixamos o assunto de lado…
Em Brasília, repórter do Congresso Em Foco foi ameaçado de morte após denunciar esquema bolsonarista de fake news.
A ameaça será levada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, ao Ministério Público e à Polícia Federal.
No Rio, foram lembrados os 20 anos do assassinato brutal de Tim Lopes.
Por que a liberdade de imprensa é importante pra democracia? Um dos autores desta newsletter explica neste programa da TV Assembleia de Minas Gerais.
Ainda em Minas, o prefeito de BH ameaçou jogar um jornalista pela janela. Achou engraçado? Tem um problema aí. Se não viu nada demais, o problema é ainda maior, pois naturalizar esses ataques é ajudar a manter o clima de violência.
É NÓIS
Links recentes do objETHOS pra você conferir:
Vozes da diversidade ecoam no jornalismo feito sobre, para e a partir das periferias e favelas brasileiras — por Juliana Freire Bezerra
Aline Midlej e o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos — por Samuel Pantoja Lima
Pesquisadores do objETHOS participam de e-book sobre a Lei de Acesso à Informação
Baixe nosso dossiê com a Fenaj: Ataques ao jornalismo e ao seu direito à informação
PENSATA
“Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social."
Constituição Federal, parágrafo 1º do artigo 220
RADAR
Um cuidado ético a que jornalistas devem estar atentos é a linguagem jornalística de coberturas sobre violência sexual. Como evitar a revitimização de mulheres ao noticiar casos de agressão?
Revitimizar é infligir mais sofrimento às vítimas. João Freire Filho e Júlia dos Anjos explicam que, no jornalismo, o processo ocorre por meio de recriminação moral e atribuição de culpa. Também no desequilíbrio do peso conferido às fontes, quando a versão dos agressores ganha mais visibilidade, e apenas as declarações das vítimas são postas em dúvida.
Tudo isso aconteceu nas 16 matérias do G1 analisadas pelos pesquisadores sobre uma acusação de agressão de Poliana Bagatini contra o cantor Victor Chaves, seu marido à época. “Cada vez que o foco de uma reportagem sobre violência contra a mulher é o fato de que a vítima não realizou exame de corpo de delito, está presente a misoginia”, escrevem. Sem debater a vulnerabilidade das vítimas de violência doméstica, as matérias convocavam especialistas apenas para discutir termos relativos ao campo penal e jurídico.
Foi uma cobertura acrítica, concluem Freire Filho e Anjos, já que não houve questionamento sobre as declarações do artista. O caso foi reduzido à mera “polêmica”, atribuiu sentidos de culpa à mulher e reforçou o estereótipo da vítima “transtornada” e irracional.
JUSTIÇA, EQUILÍBRIO E INCLUSÃO
Jornalistas brasileiros estão preocupados com o excesso e alta velocidade das informações científicas durante a pandemia de Covid-19. Resultado de um questionário online com 26 profissionais publicado na revista E-Compós.
Carlos Camponez e João Miranda analisam novas tendências de regulação do jornalismo nos observatórios de mídia brasileiros e em projetos portugueses de literacia midiática.
Artigo de acesso aberto na Journalism Studies sobre como jornalistas suíços avaliam o seu trabalho como freelancer, incluindo as dificuldades para conseguir progredir na carreira.
É preciso abandonar a ética relativista no jornalismo, argumenta Michael Leslie, e atuar em defesa de grupos oprimidos e marginalizados a partir de valores como justiça, equilíbrio e inclusão.
SECOS & MOLHADOS
Dmitry Muratov, jornalista russo que dividiu o Nobel da Paz 2021 com Maria Ressa, está leiloando a medalha do prêmio para ajudar ucranianos.
Para defender a liberdade de expressão, a sociedade deve cuidar de seus jornalistas, um artigo no Washington Post.
Meios de comunicação podem ajudar a reduzir casos de suicídio, um comentário sobre artigo publicado na revista The Lancet.
Que tal pensar em ética para a pesquisa em ambientes digitais? Não deixe de assistir a esta live com cientistas brasileiras.
Quantas cooperativas de jornalistas existem por aí? Descubra neste mapa feito pelo Observatório do Cooperativismo de Plataforma.
Por falar nisso, a Áustria está propondo criar uma cooperativa europeia pra desenvolver e compartilhar tecnologia…
O experiente Carlos Wagner escreve sobre a necessidade de jornalistas revisarem suas agendas e fontes.
LGPD não pode ser motivo para barrar acesso jornalístico a dados.
Fórum defende transparência de dados eleitorais em audiência pública do TSE.
Ética jornalística em tempos de mídia digital: assista ao debate.
Pesquisa fresquinha nos EUA: O que os jornalistas acham que a indústria de notícias faz de melhor e de pior?
Até o fechamento desta edição, ainda não sabíamos se tinham ou não encontrado os corpos de Bruno Pereira e Dom Philips. Está uma tremenda confusão, tremenda mesmo.
AGENDE-SE
Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp) abriu vaga para pós-doutorado no projeto Voices. Com bolsa! Corre que dá tempo!
Jeduca e Itaú Social lançaram edital de bolsas para reportagens sobre educação. 30 de junho é a data-limite.
Aberta a temporada de prêmios: Gabo (inscrições até hoje); Jovem Jornalista (até 19/06); Vladimir Herzog (até dia 30); Adelmo Genro Filho (até 11/07).
Curso Jornalismo em Guerra e Violência Armada com inscrições abertas.
Mais um: curso gratuito sobre dados e segurança pública para jornalistas, parceria do Fogo Cruzado com a Open Knowledge Brasil. Inscrições até 26/06.
Tem ainda outro sobre jornalismo cultural na atualidade, realizado pelo Nonada, com bolsa para pessoas negras ou trans. Começa em 5 de julho!
Esse é em inglês: como jornalistas podem noticiar pautas envolvendo saúde mental. De quebra, aprender a cuidar de si mesmos em meio a uma indústria altamente estressante. Início em 27 de junho.
Já dá pra submeter trabalhos para o 20º SBPJor e o 12º JPJor. Também na Intercom e Ibercom.
E no final do mês tem colóquio internacional sobre impactos da desinformação no Brasil e Espanha, com organização dos nossos parceiros da RNCD. Gratuito, online e com emissão de certificado.
Estudantes de graduação podem publicar, até 30 de junho, suas pesquisas de iniciação científica na Revista Brasileira Estudos da Mídia.
Também em 30 de junho, chamada aberta para um dossiê sobre desinformação a ser publicado pelo periódico Culturas Midiáticas.
Journal of Digital Media & Policy recebe textos sobre regulação de plataformas na América Latina. Você pode enviar o resumo até 4 de julho e o artigo completo somente em novembro.
Em setembro tem evento sobre novos modelos de jornalismo.
“Acabar com a impunidade de ataques a jornalistas” é o tema de um simpósio internacional organizado pela Universidade Brigham Young, em novembro, virtualmente. Leia a chamada em português e submeta a sua proposta de apresentação até 15 de setembro.
A próxima edição desta newsletter chegará até você em 28 de junho. Se tudo der certo, ainda com curadoria de Dairan Paul & Rogério Christofoletti.
Esta é uma realização do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.