7 perguntas para cobrir a Copa do Mundo no Catar
Edição 137: repórteres-torcedores + lições das eleições + tragédias e comoção
Olá, assinante!
A Copa do Mundo começa no próximo domingo e multidões de torcedores e jornalistas estão desembarcando no país com as maiores expectativas para que o evento compense a fatura do cartão de crédito e os investimentos de cobertura.
Enquanto você decora a casa e completa o álbum de figurinhas, este observatório faz o serviço sujo, que é lançar questões incômodas para motivar uma cobertura ética do evento. Serve para quem já está em Doha e para quem vai esquentar o sofá por aqui:
Dá pra cobrir o campeonato mundial sem ufanismo e patriotada?
Narradores precisam mesmo atuar como animadores de torcida?
Veremos mais uma vez repórteres adulando craques e fazendo vista grossa para a atuação da CBF?
Com tantas jornalistas incríveis, por que os meios brasileiros enviaram tão poucas mulheres para o Catar?
Alguma equipe de reportagem conseguirá se desvencilhar do grande esquema de relações públicas da FIFA e fazer uma cobertura independente do evento?
Aliás, será possível fazer jornalismo crítico num país como o Catar, que está longe de ser democrático e cumpridor dos direitos humanos?
A cobertura da Copa vai eclipsar as últimas semanas do governo Bolsonaro?
APRENDEMOS
Que lições as eleições trouxeram para o jornalismo?
Rodrigo Alves juntou um timaço no podcast Vida de Jornalista para fazer este balanço. O episódio traz Fabiana Moraes, Cecília Olliveira, Pedro Borges, Nayara Felizardo, Giovana Girardi, Clarissa Levy, Guilherme Amado e Rogério Christofoletti. Ouça!
Moreno Osório espalhou ainda mais as brasas e tentou enxergar os aprendizados dos jornalistas ao longo do governo Bolsonaro. Spoiler: avançamos, mas ainda hesitamos diante do fascismo e de ameaças à democracia. Leia no Headline.
Para Carlos Wagner, finalmente a imprensa aprendeu como funciona o governo Bolsonaro. No Observatório da Imprensa.
LÁ NO SITE
2 de novembro foi o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, e Aline Rios lembrou da data, afirmando que, com mais riscos profissionais, o jornalismo exige um pacto social pelo direito à informação.
As eleições passaram, mas as redes ainda estão encharcadas de comandos e estratégias. Sylvia Debossan Moretzsohn se questiona se, nessa guerra algorítmica, devemos brigar com a notícia da movimentação golpista.
De olho na Cop-27, Vinicius Augusto Bressan Ferreira pergunta: Qual o papel do jornalismo na discussão sobre transição energética?
Na semana que passou, nossa equipe participou ativamente do principal congresso científico dos estudos de jornalismo no Brasil (veja aqui).
PENSATA
“Quem deveria investigar o presidente da República por eventuais crimes é o PGR, Augusto Aras, mas como ele não faz isso, investigamos nós, da imprensa".
Juliana Dal Piva, jornalista do UOL no podcast Pauta Pública
RADAR
Como o jornalismo narra desastres a ponto de transformá-los em acontecimentos de comoção pública? Para responder à questão, três pesquisadoras analisaram as primeiras 24 horas de cobertura da Rede Globo sobre os rompimentos das barragens em Mariana e Brumadinho.
A repetição de imagens é um dos pontos ressaltados por Márcia Amaral, Juliana Motta e Elise Souza. O motivo é prático: difíceis de serem obtidas em situações extraordinárias como desastres, as imagens são repetidas à exaustão e realçam o caráter extraordinário do acontecimento. Funcionam como um “ritual terapêutico, na medida em que ajudam a controlar o trauma coletivo”, dizem as autoras.
Não só as imagens, mas também as fontes são elementos importantes que contribuem para uma narrativa de comoção. Na cobertura de Mariana, marcas de sofrimento são percebidas principalmente na sensação de fuga e desespero das vítimas, aliadas à falta de informações sobre o que acabou de ocorrer. Em Brumadinho, outra manifestação de sofrimento: indignação e estupefação, “talvez pela recorrência do desastre e pela quantidade de vítimas”, interpretam as autoras.
É, portanto, o intermédio do jornalismo entre audiência e testemunho dos afetados que impulsiona o processo de comoção pública dos acontecimentos.
MISSIONÁRIOS
É possível reler a Guerra de Canudos como fruto de uma teoria da conspiração? Cristiane Costa, Maria Luisa Brey e Luana Azevedo discutem o papel de Euclides da Cunha na divulgação de notícias falsas.
“Missionários da excelência”: jornalistas premiados veem a si mesmos como um exemplo de alto padrão de jornalismo.
Como e em que medida as mídias alternativas contribuem para uma maior diversidade de notícias? Tema do novo dossiê da Digital Journalism.
SECOS & MOLHADOS
Um estudo mostra que a violência nas redes sociais está mudando práticas pessoais e profissionais dos jornalistas.
No Rio, um jornalista foi demitido após fazer pergunta dura para o governador candidato à reeleição. O SBT nega o motivo, mas coincidência não existe.
Um jornalista está processando a CNN Brasil por racismo estrutural. A emissora também nega.
Após as eleições, aumentou o coro pedindo regulação das plataformas digitais. A moderação de conteúdos é um grande foco, e a Bia Barbosa é uma das melhores vozes brasileiras sobre o tema. Leia a entrevista dela ao Desinformante.
Dilemas entre a desinformação e a democracia no contexto latino-americano. Um panorama sobre um evento na Costa Rica.
É ético divulgar comunicados de imprensa sem avisar a audiência disso? Yolanda Ruiz, do Consultório Ético, responde.
Qual o papel da imprensa no esvaziamento das bolhas extremistas? Nosso pesquisador Carlos Castilho arrisca respostas.
Elon Musk comprou o Twitter, e já podemos prever efeitos nos direitos digitais. Enquanto isso, Jimmy Wales, fundador da Wikipedia, quer atrair quem desembarca do Twitter…
Para os Repórteres Sem Fronteiras, o governo Lula deve pôr fim ao clima hostil contra a imprensa que marcou os anos Bolsonaro.
Vem aí um novo livro da Nobel da Paz, a jornalista Maria Ressa: “Como enfrentar um ditador”. Nesta entrevista ao The Guardian, ela fala da necessidade e da urgência de lutar por democracia.
AGENDE-SE
Hoje à noite (16) tem um bate-papo especial sobre jornalismo internacional na mídia independente. Como cobrir o mundo sem toda aquela grana e infra. No Space do Twitter, às 21h30, com Pedro Aguiar e grande elenco.
Em Porto Velho, está acontecendo o 1º Colóquio de Comunicação e Cultura na Amazônia Rondoniense (CANOAR). Programação recheada de jornalismo!
Está sabendo? A 7ª Media Ethics Conference será em março de 2023 na Universidade de Sevilla (Espanha). Propostas de comunicação em português, espanhol ou inglês são aceitas até 31 de janeiro.
Em Florianópolis, teremos na semana que vem um curso de jornalismo humanitário com dois pesquisadores do objETHOS.
Totalmente online, o 15º Simpósio Nacional da ABCiber recebe trabalhos até 21 de novembro no formato de resumos.
Atenção para as chamadas que já passaram por aqui: ; consequências das mídias digitais para as democracias (21/11 — Alceu); diversidade das notícias internacionais (30/11 — Sur Le Journalisme); jornalismo em contextos eleitorais (30/11 — Mediapolis); economia política do futebol (23/12 — EPTIC); jornalismo e cultura streaming (01/2023 — Interin).
Você acabou de ler mais uma edição com curadoria de Dairan Paul e Rogério Christofoletti. A próxima newsletter chega antes do mês acabar, no dia 30. Será a penúltima do ano!
Esta newsletter é uma realização do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.