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Afinal, quando poderemos comemorar?
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Afinal, quando poderemos comemorar?

Manchetes infelizes + batalhas nas redes sociais + livros de graça

objETHOS
Apr 7, 2021
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Afinal, quando poderemos comemorar?
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Alô, assinante!

Esta newsletter tem repetido que fazer jornalismo em tempos de pandemia é um exercício diário de força de vontade e comprometimento profissional. Afinal, dar as piores notícias todos os dias - sem trégua! - devasta também a saúde mental dos jornalistas. Sabemos que alguém tem que fazer o trabalho difícil, e cabe aos jornalistas divulgar as terríveis estatísticas e noticiar a incapacidade geral no combate à Covid-19.

Às vezes, alguém erra no tom, o que é compreensível. Acontece.

Inaceitável é quando o jornalismo se nega a enxergar os fatos e passa a mascarar a realidade, como se fosse possível tapar o sol com a peneira…


MANCHETE INFELIZ

A edição do jornal ND que circulou em Joinville (SC) na sexta, 2, tentou ver algo positivo na pandemia e foi um desserviço jornalístico. A capa trouxe em destaque os 70.865 casos recuperados, mas também mostrava as 1005 mortes pela doença. No rodapé, a frase “Temos motivos para comemorar” desmanchou a intenção dos editores de chamar a atenção para o lado bom da coisa. Causou perplexidade e indignação, pois uma cidade que perde mais de mil pessoas para a Covid não tem nada a celebrar.

Nas redes sociais, a gritaria diante da insensibilidade foi tanta que o jornal publicou editorial dizendo que foi “mal interpretado”. Será mesmo?

Se você não sabe, o ND é um jornal que segue a cartilha bolsonarista, e em julho do ano passado defendeu abertamente a “liberdade para se tratar”, contrariando orientações sanitárias e autoridades da área. É um jornal que tem como colunistas Alexandre Garcia, Luis Ernesto Lacombe, Guilherme Fiuza e Rodrigo Constantino, que compõem o exército negacionista da mídia alinhada ao governo.

O ND é o jornal que, um dia depois da manchete infeliz, noticiou as mortes de três jornalistas com o título “Covid-19 abrevia vida de Ney Padilha, grande nome do jornalismo esportivo catarinense”. Os autores da chamada até tentaram fazer um contorcionismo verbal, mas o fato é que a Covid-19 não abrevia a vida de ninguém. Ela mata, colegas. Sem subterfúgios ou palavras que amenizem: a Covid mata!

Hoje, 7, é dia do jornalista e não há o que comemorar. Levantamento da Fenaj, publicado ontem, aponta que o Brasil é o país com o maior número de jornalistas mortos por Covid-19 no mundo. Foram 86 só neste ano!


EM NOSSO SITE

  • “Redes sociais: tempo de vida, fake news e manipulação”, um instigante artigo de Samuel Lima em nosso site.

  • Denise Becker pergunta: E se o jornalismo fosse inventado hoje?

  • Confete 1: nosso projeto de extensão que leva crítica de mídia a escolas públicas da Grande Florianópolis foi tema de doutorado na Unisinos.

  • Confete 2: esta newsletter é uma das 10 brasileiras indispensáveis pela Rede Internacional de Jornalistas (IJNet). Ficamos duplamente felizes, pois estar ao lado de Farol Jornalismo e Abraji também é um luxo, certo?

  • Por falar em newsletter, chegaremos à 100ª na próxima edição. Conte umas verdades pra gente aqui.


RADAR

Está a par dos últimos estudos envolvendo jornalismo e pandemia? Sem problemas se a resposta for negativa. A seguir, discutimos as pesquisas mais recentes publicadas em um capítulo de livro e dois dossiês científicos.

Começando pelo tema da desinformação. Entre março e julho de 2020, Felipe Soares, Raquel Recuero, Paula Viegas, Carolina Bonoto e Luiz Ricardo Hütner coletaram um alto volume de publicações sobre cloroquina. O resultado foi o mesmo no Twitter, Facebook e Instagram: grupos favoráveis ao uso do remédio para tratamento precoce tiveram mais visibilidade e engajamento. Além disso, as fontes principais desses posts não são veículos jornalísticos tradicionais, mas o que os autores chamam de “mídias hiperpartidárias” (sites que circulam desinformação e não tem compromisso com normas éticas do jornalismo, como o Conexão Política).

Por outro lado, cada rede guarda algumas características específicas. No Instagram, políticos são os principais responsáveis por circular mentiras pró-cloroquina. Como a plataforma se estrutura em torno do poder da imagem, e não é possível inserir links clicáveis nos posts, figuras públicas ganham mais proeminência.

É diferente do Twitter e Facebook, onde usuários comuns são mais ativos no compartilhamento da desinformação. No caso da rede de Zuckerberg, links a rodo circulam principalmente via grupos fechados, o que dificulta rastreá-los. É por isso que a conclusão do estudo não poderia ser outra: cada mídia social requer uma estratégia específica no combate às mentiras, levando em conta suas particularidades.


SURREALISMO

Ainda sobre a pandemia, as pesquisadoras Paula Falcão e Alice de Souza mapearam quais eram os temas das fake news brasileiras relacionadas à Covid-19.

Mentiras sobre a origem do vírus, estatísticas falsas e descrédito de jornalistas e meios de comunicação estão entre os tópicos. Mas não só isso. As autoras precisaram criar uma nova categoria chamada “informações surreais”. Você deve imaginar o nível do conteúdo (ou não!): urina de vaca como cura para a Covid, plástico bolha sendo transmissor do coronavírus, e por aí vai…

Falando em desconfiança, saiu um estudo sobre consumo de notícias durante a pandemia por jovens da Espanha. Neste mesmo dossiê, outra análise conclui que o fluxo de desinformação no Brasil contribui para acirrar disputas políticas.


ANTIVACINERS

Bem antes da pandemia, discursos antivacina já cresciam em plataformas como o YouTube. É o que demonstra esta pesquisa sobre vídeos publicados em canais brasileiros entre 2018 e 2019.

No discurso dos youtubers, a imunização vira sinônimo de risco de morte (!) e restrição na liberdade de escolha do cidadão. O primeiro argumento tem a ver com um pano de fundo que envolve curas naturais e a oferta de terapias milagrosas como resposta à vacina. Sugere que elas seria uma agressão ao corpo saudável. Já a segunda é de cunho político, e coloca mais um tijolo no muro de desconfiança contra instituições científicas e midiáticas.

São duas abordagens que parecem distantes, mas possuem algo em comum: a crença religiosa, analisam os autores.


DOIS EBOOKS E MAIS

  • Durante a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, sites brasileiros descreveram os povos indígenas contrários ao empreendimento como “invasores” e sujeitos “de menor capacidade”. Jornais estrangeiros, por outro lado, ouviram as fontes e deram mais abertura às falas críticas.

  • Uma perspectiva dialética materialista sobre objetividade jornalística, em artigo assinado por Rafael Bellan.

  • Mais teorias do jornalismo: Rasmus Klein atualiza o pensamento do autor clássico Robert Park para discutir formas de conhecimento geradas pelas notícias digitais. Artigo traduzido para o português pela Intexto.

  • Pesquisa da Fundação Getulio Vargas mapeia discursos de ódio no Twitter e Facebook no Dia da Consciência Negra.

  • Com prefácio do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, o novo livro de Leonardo Foletto aborda a história da resistência antipropriedade na cultura livre. Baixe!

  • “Postar ou não?” é um ebook gratuito sobre a responsabilidade de compartilhar informações nas redes. Com dicas, testes e linguagem acessível, a publicação de Taís Seibt e Marília Gehrke (Afonte Jornalismo de Dados) é voltada ao público jovem. Baixe também!


SECOS & MOLHADOS

  • Violação de segredo de justiça, vigilância de jornalistas, medo e perseguição. No Brasil? Não, em Portugal, conta a revista Jornalismo & Jornalistas.

  • Autoridades andam bloqueando os jornalistas nas redes sociais. No Brasil? Sim, pelo menos em 174 casos, diz a Abraji.

  • Aliás, parece que atacar jornalistas está liberado nas redes sociais, principalmente no Facebook. Para The Guardian, as diretrizes da rede permitem.

  • Por falar em Facebook, a rede foi denunciada pela Repórteres Sem Fronteiras na França por proliferação de desinformação e mensagens de ódio.

  • Nos EUA, um relatório sobre direitos humanos associa Jair Bolsonaro a ataques à imprensa no Brasil. Who could imagine?!

  • Enfrentamos duas pandemias. Um panorama da dura vida de jornalista por aqui, escrita por pesquisadores brasileiros para os alemães entenderem.

  • IA para combater desinformação: baixe este informe espanhol.

  • Na Inglaterra e Irlanda, jornalistas de Mirror, Daily Star e Express não voltarão mais às redações. Trabalharão de casa em definitivo.

  • Calma que tem boa notícia também. Nossa parceira, a Fiquem Sabendo é a mais nova integrante da Global Investigative Journalism Network (GIJN). 

  • Dicas éticas para cobrir trabalhadores do sexo.

  • Grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade, da USP, criou uma newsletter. Assine!

  • Vale mencionar também a excelente edição da última Cajueira. O tema: jornalismo independente nordestino fora das capitais. Leia!

  • A crise da mídia é resultado de uma crise de identidade, afirma a jornalista colombiana Maria Teresa Ronderos.

  • Não conseguiu acompanhar o Congreso Hermes sobre comunicação, jornalismo e cinema? Vídeos de todas as mesas já estão disponíveis. Aproveite.

  • O dilema entre ser herói e ser jornalista, coberturas de manifestações feministas e crítica aos colegas. Temas do podcast do Consultório Ético.

  • Basta dizer a verdade para ter a confiança do público? Marcela Kunova mostra como a realidade é mais complicada.

  • Como lidar com tanta notícia ruim? O repórter João Paulo Charleaux conta como faz.

  • Você também já quis reescrever as manchetes para modificar o mundo ao seu redor? No BemDito, as notícias que mais desejamos.


    AGENDE-SE

  • Como trabalham os trabalhadores da comunicação em meio à pandemia? Participe desta pesquisa.

  • Tem curso gratuito sobre comunicação pública, EBC e democratização da comunicação. Começou ontem e vai até sexta-feira. Acompanhe aqui!

  • Tem curso pago da Intercom sobre pesquisa em Comunicação: aqui.

  • Daqui a uma hora tem webinário com AzMina e Instituto Serrapilheira sobre como captar recursos para investir em iniciativas jornalísticas. Corra para fazer sua inscrição!

  • Dinheiro para custear reportagens? Tem bolsas da Fundación Gabo. Veja.

  • Um dossiê sobre história da imprensa está com chamada aberta até 5 de julho. Promoção da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

  • No periódico Mídia e Cotidiano, o tema do próximo dossiê envolve a informação e o mal: disputas éticas, políticas e epistemológicas da comunicação em tempos extremos. Submissões até 14 de junho.

  • Alguém falou em desinformação aí? Tem um debate imperdível amanhã! O recrudescimento da desinformação nas redes sociais, as ações de enfrentamento e a migração para redes alternativas. É às 19 horas. Assista aqui.


Você acabou de ler mais uma edição produzida por Dairan Paul e Rogério Christofoletti. A próxima é a 100ª, tão importante que vai ignorar o feriado de 21 de abril pra chegar até você.

Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.

Como estamos dirigindo? >>> objethos@gmail.com
Twitter: @objethos | Instagram: @objethos_ufsc | Facebook: @objethos
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