Chegamos a 100, e a culpa é sua!
Edição 100: o polígrafo de Bial + a força da mídia independente + newsletter transparente
Alô, assinante!
Chegamos ao número 100 desta newsletter. Quando a criamos, em outubro de 2016, ela era só mais uma forma de espalhar o que publicávamos no site do objETHOS. Em março de 2019, na edição 51, decidimos fazer dela um instrumento para incentivar os debates sobre ética jornalística. Passamos a publicar o Radar por aqui, adicionamos algumas seções e aceleramos. Nesse tempo, alteramos o logotipo algumas vezes, mudamos de casa, e tentamos melhorar a partir do que você nos disse nas pesquisas.
Se ainda continuamos a lotar sua caixa postal, a culpa é sua, que não cancelou a assinatura, que nos impulsiona sempre que manda um email, e que nos brinda com um tantinho da sua atenção. Muito obrigado.
POLÍGRAFO E BLINDAGEM
Pedro Bial quis divertir a turma do Manhattan Connection e disse que só entrevistaria o ex-presidente Lula com um polígrafo. No UOL, Maurício Stycer viu grosseria no gesto. Bial se queixou em textão na Folha de S.Paulo e disse que “grosseria é pressupor malícia e ousar impor condições como ‘só faço ao vivo, não confio na edição’”. Stycer voltou ao caso: não é pessoal, Bial; é só crítica de TV, acostume-se.
Lula tem motivo para desconfiar de edição. Basta lembrar do que a TV Globo fez nas eleições de 1989, reconhecido até mesmo pela emissora. O ex-presidente ou qualquer outra fonte pode impor condições em entrevistas. Por isso que se chama “conceder entrevista”. E jornalistas podem não aceitar tais condições. É do jogo.
Políticos não devem ser tratados com leniência, mas jornalistas também não estão livres de serem criticados. Nesse jogo, ninguém está blindado.
CRÉDITO AOS INDEPENDENTES
Se ainda não leu, dedique um tempo para esta matéria da Agência Pública. Denúncia das grandes envolvendo o falecido fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, em crimes sexuais contra crianças e adolescentes.
O que nos interessa discutir aqui é a curiosa repercussão de um caso tão grave. No mesmo dia em que foi o ar, a editora Natalia Viana já fazia um bolão: quem seria o primeiro jornal a repercutir o furo?
El País Brasil, Marie Claire e Claudia deram destaque à reportagem, mas foram exceção. Zero menções em Folha de S. Paulo, Estadão, G1...
Você pode dizer que há interferência de anunciantes na imprensa. Não é só isso. Existe também certa indisposição de grandes veículos com mídias independentes, como se elas não fossem fontes dignas de créditos. Já aconteceu com The Intercept Brasil, Observatório da Mineração e Lado B do Rio, pra citar alguns.
Caso precise, a gente diz o óbvio: creditar o trabalho alheio é demonstração de respeito com os colegas, com a profissão e com o público. O mínimo, né?
FALANDO NELES…
Queremos dar mais visibilidade ao jornalismo independente nesta newsletter, já que há muita coisa boa sendo feita por aí. A cada edição, três meios pra você conhecer (e, se der, apoiar $$$ - as iniciativas agradecem!):
Agência Tatu (AL): especializada em jornalismo de dados. Utilizando a Lei de Acesso à Informação, noticiou recentemente o aumento de apreensão de celulares nos presídios alagoanos.
Correio do Lavrado (RR): resgatar as origens do jornalismo e propor uma leitura mais humanizada dos fatos é a missão do veículo. Destacamos o especial de um ano de pandemia em Roraima: foram 87 mil casos e 1.281 mortes.
Correio Sabiá (DF): outro correio, mas agora via zap. Pílulas diárias sobre os bastidores políticos de Brasília editadas por um jornalista de O Globo. É só entrar no grupo.
E aproveitamos para indicar mais uma vez a Cajueira, newsletter especializada em curadoria sobre jornalismo independente produzido no Nordeste. Somos fãs!
COMO FUNCIONA NOSSO RADAR?
Para a centésima newsletter, resolvemos revelar segredos do Radar. Ou quase isso.
Por trás dos artigos mastigadinhos que você recebe quinzenalmente, há uma seleção. Vamos mostrar agora o caminho que percorremos para coletar todo esse material, , com dicas que pode ser úteis principalmente para estudantes (de graduação, mestrado ou doutorado). Olhaí as nossas fontes:
listas acadêmicas: para ficar a par de produções científicas em português e espanhol, acompanhamos a lista da Compós, que reúne os Programas de Pós-Graduação em Comunicação no país. Ela é aberta e você pode entrar, mas a gente avisa: como toda lista de discussão, são várias mensagens diárias - e muitas delas podem não interessar diretamente.
sistema de alertas: nossas caixas de e-mails também são soterradas por notificações de revistas científicas. É o jeito mais fácil pra ficar atualizado sobre novos artigos e edições completas em periódicos gringos. Basta assinar os alertas disponíveis nos sites (vá em “New content alerts” ou “Stay connected > Email alerts”). Por aqui, recomendamos o Journal of Media Ethics, Journalism Practice, Journalism Studies, Digital Journalism, Journalism, Communication Research e Social Media + Society. O mesmo esquema serve também para alertas no Google Acadêmico.
mais curadorias: somos entusiastas de outras três iniciativas com propostas semelhantes ao Radar: o site Comunicolog, do jornalista Cristiano Anunciação, e as newsletters RQ1, dos professores Mark Coddington e Seth Lewis, e Periódica, da doutoranda Luiza Bodenmuller. Elas também são nossas fontes de consulta e recomendamos fortemente que você as assine.
Um bônus: redes sociais de pesquisadores. Sim, muita coisa só chega até a gente porque acompanhamos o Twitter ou o Facebook das nossas referências bibliográficas.
É isso! Agora você já sabe como pode acompanhar melhor as pesquisas em jornalismo mundo afora. Mas se bater aquela preguiça, é só continuar lendo a curadoria da nossa newsletter mesmo. E espalhar a palavra!
10 ARTIGOS E 3 E-BOOKS
Condições de trabalho. Estudo de Thales Lelo indica que redações de jornalismo digital naturalizam práticas de assédio moral. A cobertura urgente em tempo real é uma das causas.
Qualidade. Mais de quatro mil notícias foram analisadas nesta pesquisa para concluir que mídias espanholas não cobrem o tema da corrupção de modo satisfatório.
História do jornalismo. A produção de memória sobre o Sistema Único de Saúde pelas páginas de O Globo. Uma periodização para o jornalismo português, em artigo de Jorge Pedro Sousa e Helena Lima.
Resistências. Beatriz Marocco propõe uma teoria da prática jornalística para qualificar repórteres como intérpretes morais da realidade.
Demissões. Como as estratégias de corte de custos tornaram as notícias mais homogêneas na Bélgica e afetaram a autonomia dos jornalistas.
Jabás. Neste artigo, pesquisadores espanhóis analisam independência jornalística, presentinhos e interferências econômicas.
Descompasso. E quando o público não concorda com os valores jornalísticos? Farol Jornalismo oferece ótima síntese de pesquisa estrangeira sobre o assunto.
Retórica populista. A linguagem em nome do povo utilizada pelo jornal Extra na Copa de 2014. E uma análise sobre o populismo reacionário no Twitter de Jair Bolsonaro.
Livros grátis! “Regionalidade e discursos midiáticos: mapeamento e análise em Mato Grosso do Sul” (Mario Luiz Fernandes, Daniela Ota e Taís Tellaroli Fenelon), livro comemorativo dos 10 anos do PPGOCM da UFMS. Já “Accountability e governança do trabalho jornalístico: como a cooperação entre jornalistas no setor público” aprimora a prestação de contas do executivo federal”, de Jacques Mick traz uma investigação sobre o trabalho de jornalistas no governo federal. Por fim, um dos resultados de Home Style Opinion: How Local Newspapers Can Slow Polarization: seções de opinião com conteúdos locais podem atenuar a polarização política.
SECOS & MOLHADOS
Abraji e ABI lançaram iniciativas para frear o assédio judicial contra jornalistas no Brasil. Fenaj e sindicatos estão desenvolvendo um protocolo comum para atuar em casos de violência contra os profissionais da informação.
Tem também uma campanha contra bloqueios no Twitter. Sim, cada vez mais, autoridades se acham no direito de fazer isso… O Brasil está numa situação muitíssimo complicada quando se fala de liberdade de imprensa.
Oito meios latino-americanos criaram uma rede de jornalismo humanizado.
A Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi), da qual o objETHOS faz parte, modernizou sua marca. Confira!
Veja só (1): Alexandre Garcia disse que faltou ética ao senador Jorge Kajuru na gravação sem autorização de um telefonema com o presidente da República.
Veja só (2): Leda Nagle propagou fake news, mas pediu desculpas.
Veja só (3): Hans River vai ter que indenizar Patrícia Campos Mello.
O Twitter é a rede mais valorizada pelos jornalistas. É o que mostra a pesquisa State of Journalism 2021.
É preciso falar sobre a saúde mental dos jornalistas. O alerta é de nossa pesquisadora Janara Nicoletti.
Jéferson Silveira Dantas, também pesquisador do objETHOS, relembra Nelson Rodrigues e seu anti-Brasil para falar do que ainda sobrou do país…
CNN Brasil está investigando denúncia de racismo contra uma de suas jornalistas, Basília Rodrigues.
No Poynter, Dan Salomone pergunta: a grande mídia precisa ressuscitar o ombudsman para resgatar parte de sua credibilidade?
Para a espanhola Asociación de Medios de Información, os ombudsman ajudam também na diversidade e transparência…
Universidade Federal do Tocantins concluiu os seminários de jornalismo deste ano, e o tema foi ética na cibersociedade. Confira os debates aqui.
Mais seminário, dessa vez da Universidade Federal da Paraíba, sobre reinventar e resistir no jornalismo. Assista!
Pra fechar, é a vez da Universidade Federal do Espírito Santo. Marcia Benetti (UFRGS) participou de uma aula aberta sobre análise do discurso.
Reserve tempo para explorar este diretório de newsletters brasileiras gratuitas, criado pelo Rodrigo Ghedin, do Manual do Usuário.
A revista Coletiva, da Fundação Joaquim Nabuco, publicou um dossiê sobre cuidado, insumo vital para o momento. Os autores desta newsletter contribuíram com um artigo sobre o jornalismo cuidadoso.
AGENDE-SE
Você se reconhece como jornalista negra? Não quer participar desta pesquisa sobre racismo estrutural na profissão?
Faculdade Cásper Líbero vai oferecer um curso sobre marketing político nas redes sociais. Será em maio, durante dois sábados. Como 2022 está logo ali, pode interessar.
Sociedad Interamericana de Prensa começou ontem (20) sua reunião semestral. Até dia 23 vai tratar de liberdade de imprensa no continente.
Começa hoje a série de seminários do Reuters Institute.
Não aguenta mais a pandemia? Que tal participar do 1º Congresso Internacional da Sociedade Pós-Covid? Mais informações aqui.
Pesquisa telejornalismo e direitos humanos? Dois livros estão recebendo propostas de capítulo até 28 de abril. Organização da Rede Telejor, com lançamento pela Editora Insular.
Até o fim do mês, dia 30, ainda dá pra enviar artigos sobre jornalismo audiovisual à revista Interin.
E um pouco antes, até 26, você pode submeter textos sobre novas vozes e veículos que emergiram durante a pandemia. Tema da Revista Univap.
Inovação em mídia na Ibero-América: mirando o futuro é o tema do próximo dossiê editado pela revista Observatório. Prazo: 30 de maio.
Chamadas da última edição que ainda estão de pé: teorias da conspiração (International Journal of Research into New Media Technologies - 01/05); narrativas, mídias e linguagens no mundo pandêmico (Rizoma - até 15/5); mídias, comunicação e liberdade de expressão (capítulo de livro da Intercom - 01/06); desinformação, crise das verdades e negacionismo científico (Eco-Pós - 10/06); a informação e o mal: disputas éticas, políticas e epistemológicas da Comunicação em tempos extremos (Mídia e Cotidiano, 14/06).
Sentindo o peso e a responsa,
Dairan Paul
e
Rogério Christofoletti
produziram esta centésima edição da newsletter. A próxima chegará para você em 5 de maio.
Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.