IA ajuda a pensar a ética jornalística
Edição 140: invasão robô + entressafra científica + observatório de violência
Olá, assinante!
Voltamos do recesso e não vamos tratar de OVNIs, mas de outro assunto impactante: Inteligência Artificial. A diferença é que as IAs já estão entre nós (👽: só elas?!).
ChatGPT, Bard e outras novidades provocaram muito ruído nas últimas semanas, causando fascínio, curiosidade e toda sorte de previsões: revolução na sala de aula, extinção de profissões e uma nova era para a busca na internet.
Quem testou os recursos percebeu mais sofisticação na imitação dos padrões humanos, e queda drástica no tempo de respostas às perguntas. Também já notamos uma série de tropeços das máquinas, mas talvez o mais importante nem seja o quanto elas acertam, mas o que podemos perguntar a nós mesmos a partir da sua existência (🤔). De forma atrevida e sem apelar ao chat, listamos algumas questões incômodas…
PARA HUMANOS RESPONDEREM
No último mês, quantas “entrevistas” fizemos com o ChatGPT achando que seria uma ideia criativa e absolutamente original?
Como impedir que nossa IA favorita seja também uma espalhadora de fake news?
IAs podem facilitar muito a produção de textos jornalísticos simples, mas não estaremos inundando o mundo com conteúdos iguais e sem personalidade?
Se você fosse uma fonte jornalística, aceitaria responder perguntas claramente formuladas por robôs?
Por outro lado, qual a certeza de que as respostas que você acabou de receber de suas fontes não foram geradas por IAs? Como checar isso?
Quem responderá na justiça por danos provocados por matérias geradas automaticamente?
Como as comissões de ética vão lidar com casos em que jornalistas apoiaram suas ações em Inteligência Artificial?
Jornalistas, às vezes, mentem para obter informações. Vamos treinar nossas IAs da mesma forma?
DE VOLTA
O recesso foi merecido, mas nossa equipe já está aprontando…
Marco Britto escreveu o primeiro comentário semanal no site, e tratou do encerramento das atividades do Consórcio de Veículos de Imprensa.
Clarissa Peixoto mete o dedo na ferida e convida a pensar: não está na hora de os jornalistas participarem mais politicamente?
Álisson Coelho escreveu no Observatório da Imprensa sobre a polêmica montagem fotográfica de Gabriela Biló.
Natália Huf e Kalianny Bezerra publicaram dois artigos na mais recente edição da revista Estudos em Jornalismo e Mídia.
Cesar Valente lançou com o Diarinho uma versão atualizada do “Caminho das Pedras”, o guia de ética, estilo e autorregulação do jornal.
Samuel Lima e Ricardo Torres avançaram nos acertos com a Secretaria Estadual de Educação para a retomada do projeto objETHOS nas Escolas em 2023.
Coordenadores do objETHOS participaram do livro “Jornalismo e Qualidade no mundo de expressão portuguesa”, lançado em Macau (China).
PRORROGADO
Atendendo a pedidos, os organizadores da 7ª Media Ethics Conference prorrogaram o prazo para envio de propostas de comunicação científica. Interessados devem encaminhar resumos de 500 a 1000 palavras até dia 19. Corre!
O congresso acontece no mês que vem, em Sevilha (Espanha), de modo híbrido. As atividades dos dias 14 e 15 são online, facilitando a participação remota em mesas redondas e debates diversos. Nos dias 16 e 17, o evento reúne seus congressistas presencialmente na Facultad de Filosofia da Universidad de Sevilla. São aceitos trabalhos em português, espanhol ou inglês.
Inscrição com preços especiais até 15 de fevereiro. Para agilizar a avaliação das propostas, a organização orienta a mandar os resumos para o email: conferencemediaethics@gmail.com
Mais informações aqui.
NÃO ACABOU
O fim do governo Bolsonaro foi um alívio para a classe jornalística, sistematicamente agredida nos últimos anos. Mas a ida de Jair para os EUA não impediu que mais violência acontecesse contra profissionais da imprensa. Caso do acampamento dos “patriotas”, em Fortaleza, e dos atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília, só para citar os ataques mais graves.
As agressões não são só físicas, como mostra a fala detestável do procurador-geral da República, Augusto Aras, contra a jornalista Miriam Leitão.
Aliás, no começo do ano, a Fenaj lançou seu tradicional relatório que monitora ataques à categoria. A situação é alarmante, mais uma vez. Até quando?
UMA REAÇÃO
O novo governo se apressou para mostrar que o relacionamento com a imprensa será de outro nível, e anunciou a criação do Observatório Nacional da Violência contra Jornalistas e Comunicadores. A ideia é um pedido antigo de organizações de defesa da liberdade de imprensa, e estava entre as recomendações que fizemos com a Fenaj no dossiê “Ataques ao jornalismo e ao seu direito à informação” (veja a página 37).
A primeira reunião no Ministério da Justiça e Segurança Pública com representantes dos jornalistas e da sociedade civil aconteceu no começo deste mês, e o objETHOS participou. No encontro, o secretário nacional de Justiça, Augusto Arruda Botelho, fez questão de dizer que o observatório não vai se restringir à coleta de dados da violência. A ideia é que produza indicadores, proponha políticas públicas, acompanhe o andamento de processos judiciais, cobre ações de autoridades e contribua para a conscientização social da importância dos jornalistas na sociedade.
O observatório está em fase de implantação, e estamos acompanhando…
PENSATA
“Sem imprensa livre e sem jornalistas exercendo a profissão com segurança e condições dignas de trabalho, não há verdadeira democracia.”
Samira de Castro, presidente da Fenaj
RADAR
Dezembro e janeiro, o período de entressafra desta newsletter, foi de pouco descanso para pesquisadores em jornalismo. Ao menos é o que indicam os mais de dez artigos que selecionamos para este primeiro radar do ano — todos saíram enquanto você comemorava o ano novo ou curtia a praia no verão. Tá passada com a ciência?
Na USP, a revista Rumores organizou um dossiê sobre liberdade de expressão do qual destacamos dois artigos: a desinformação como catalisadora da violência contra profissionais da imprensa, e as origens da misoginia online contra jornalistas mulheres no chamado gendertrolling.
A regionalidade é uma das principais características dos podcasts tocantinenses, segundo um mapeamento de 83 programas.
Embora esclareçam dúvidas dos leitores, as colunas de ombudsman do jornal Folha de S. Paulo raramente criticam métodos de apuração e divulgação das matérias. Artigo de Kalianny Bezerra de Medeiros, nossa pesquisadora no objETOS.
Também na EJM: o impacto da Lei de Acesso à Informação na produção científica sobre jornalismo; financiamento do jornalismo independente no Nordeste; quem são as cooperativas de jornalistas na Ibero-América.
Este artigo sustenta que a cobertura da operação Lava-Jato exemplifica um processo de colonização no jornalismo brasileiro.
Sabe a diferença entre fotomontagem, descontextualização/recontextualização fotográfica e montagem texto-imagem? Jane Maciel explica o que seriam fotografias fake e seus usos para propagar desinformação política.
RESPIRE FUNDO
O que dizem grupos ativistas de extrema direita sobre a imprensa brasileira? Tome fôlego e leia aqui.
“Neutralidade” e “objetividade” contribuem para uma “racionalidade narcísica branca”, analisa Lucas Sepulveda em artigo sobre a cobertura da violência policial na Folha de S. Paulo.
Enquanto que o jornalismo independente francês foca nos diferentes formatos de notícia, o brasileiro enfatiza a luta contra desigualdades sociais. Mas os dois têm uma semelhança: não possuem anunciantes e vínculos empresariais.
Um conjunto de recomendações para a cobertura sobre suicídio a partir de pesquisa bibliográfica e entrevistas com jornalistas.
De noticiadores a noticiados: uma análise sobre jornalistas que se tornaram alvo de desinformação durante a pandemia de Covid-19.
SECOS & MOLHADOS
Joshua Benton pergunta: quem é dono de uma conta no Twitter: o jornalista ou seu empregador? A questão não é nova. Em 2012, nossa pesquisadora Janara Nicoletti já tratava disso na sua dissertação de mestrado…
Cobrir situações traumáticas sempre é complicado. Que tal algumas dicas?
A Finlândia está ensinando uma geração a detectar desinformação. Demais, né?!
A Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo puniu profissionais no caso de plágio praticado pelo Estadão sobre o conteúdo do site Grande Prêmio.
FIJ divulgou relatório sobre jornalistas mortos em 2022. Terrível.
Na LatAm Journalism Review, dicas de como cobrir o extremismo no Brasil.
Tow Center divulgou resultados de nova pesquisa sobre liberdade de imprensa e interesse público. (aliás, nossos pesquisadores já trataram desse assunto aqui)
Vocês viram esse guia básico de financiamento do jornalismo digital que a AJOR lançou ontem?
AGENDE-SE
Até dia 28, mande seu trabalho para o Encontro Nacional de Pesquisa Aplicada em Comunicação (ApliCom), que será em junho de 2023 na UFMA.
Bora participar do Prêmio Gabo 2023? Inscrições abertas!
Revista Eco-Pós tem chamada para dossiê sobre crises na democracia e desinformação: até 1º de março.
Você pesquisa jornalismo militante, ativista e combativo? Este dossiê foi feito para você: até 31 de março, envie artigos para a nova edição da Brazilian Journalism Research.
Lembre-se: 15 de março é o prazo máximo para artigos na 32ª Compós.
O impacto da desinformação nas rotinas profissionais e as soluções baseadas em inteligência artificial são temas do próximo dossiê a ser editado na revista Estudios sobre el Mensaje Periodístico. Submissões até 14 de abril.
Em 2023, dois dossiês na revista Eptic com o mesmo prazo: comunicação e marxismo e reforma das telecomunicações. Os dois até 30 de abril.
Festival 3i já tem datas e acontece em maio. Não perca de vista!
Seminário de Pesquisa da Abraji já recebe trabalhos sobre jornalismo investigativo.
Na revista Mídia e Cotidiano, uma edição sobre comunicação e democracia na América Latina. Submissões até 04 de junho.
Sustentabilidade dos meios: um dossiê na espanhola Ámbitos, com um prazo mais que camarada…
Dairan Paul e Rogério Christofoletti assinam esta edição, mas na próxima, teremos reforço na equipe. Aguarde… 🤖Bom carnaval, humanos!
Esta newsletter é uma realização do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.