O plano de aterrorizar jornalistas está dando certo?
Edição 130: trabalho à paisana + mídia & democracia + três perguntas
Olá, assinante!
A esteira acelera a partir de agora, depois que as convenções partidárias decidiram quem vai pedir votos nas próximas semanas. Já tem debate acontecendo, gente posando com pastel e chapéu de vaqueiro, e sabatinas em sites e podcasts. A propaganda eleitoral começa dia 26, mas uma notícia pode indicar uma mudança na cobertura dessas eleições: a Globo não terá repórteres carrapatos para ficar na cola dos presenciáveis durante suas agendas públicas. A decisão veio de cima, e o motivo é um só: medo de mais agressões a jornalistas.
Em várias praças, repórteres da emissora estarão à paisana para poder trabalhar com alguma segurança. Parece pouco, mas é a primeira vez que a empresa adota a política, o que pode ser seguido por outros meios.
Há anos esta newsletter vem ajudando a denunciar a violência explosiva contra jornalistas. Esses ataques são marcadamente bolsonaristas, apontam diversos levantamentos. Insistimos que ataques a repórteres não são um problema só deles, mas de toda a sociedade. A intimidação dos profissionais impede que façam o seu trabalho de levar informações para os cidadãos, já dissemos.
Quando a maior rede de TV do país retira seus repórteres do corpo-a-corpo da campanha, perdemos todos. Vencem os violentos, os ameaçadores…
VITRINE
Na última quinzena, publicamos no site do objETHOS:
Vedações impostas no período de defeso eleitoral prejudicam a Comunicação Pública — por Ricardo José Torres
O discurso extremo de quem não tem nada a perder — por Juliana Rosas
Não conhece nosso site? São centenas de textos com análises da mídia e uma biblioteca com livros, artigos científicos, resenhas e diversos materiais sobre ética jornalística. Tudo de graça. Dá uma passadinha lá!
PENSATA
“A ambiguidade moral do jornalismo não está nos seus textos, mas nas relações das quais estes surgem"
Janet Malcom, em O jornalista e o assassino
RADAR
O senso comum afirmaria que democracias mais consolidadas detêm um mercado de mídia mais diverso e representativo. Já a ciência vai além: como essa afirmação poderia ser provada?
Para verificar a hipótese, o pesquisador Juliano Domingues realizou testes estatísticos de correlação entre mídia e contexto político em 194 países. Variáveis foram identificadas a partir de dados sobre concentração de propriedade dos meios, leis e regulações, transparência, ferramentas institucionais, censura e controle sobre notícias, entre outros.
Os resultados confirmam o que já se esperava: quanto maior o grau de influência econômica, política e legal sobre a mídia, menor é o grau de qualidade da democracia. Oligopólios e violência contra profissionais são exemplos de obstáculos que fragilizam o media opening — isto é, um sistema de mídia independente do poder dos governos.
“Tendem a resultar desse ambiente sistemas de mídia pouco diversificados e plurais, com alto grau de dependência em relação a processos seletivos de alocação de recursos, sobretudo aqueles referentes a verbas de publicidade e subsídios setoriais”, explica o autor do estudo.
TRÊS PERGUNTAS
Como três redações brasileiras de referência estão implementando ações de transparência?
Quando o jornalismo encontra o feminismo? Duas pesquisadoras respondem à questão analisando reportagens do site AzMina.
O que jornalistas e públicos entendem por “verdade”? Este artigo oferece seis interpretações sobre o conceito.
SECOS & MOLHADOS
Uma empresa pode proibir que uma lista de palavras apareça na mesma página do seu anúncio? A Caixa Econômica Federal acha que sim, afinal, é o que parece que está fazendo ao usar a publicidade para censurar a mídia.
Mas como proteger a independência editorial das pressões dos assinantes? A newsletter do Farol trata da “síndrome do espelho da Branca de Neve”.
Em Pernambuco, uma repórter foi xingada e agredida fisicamente por um ex-vereador do União Brasil.
Lembra da menina de 11 anos, estuprada, que queria interromper a gravidez? Em Santa Catarina, deputados bolsonaristas querem criar uma CPI sobre o caso. O alvo principal: sites de notícia que cobriram o escândalo.
Por falar em amordaçamento da imprensa, Lucia Mesquita escreve no site Desinformante sobre a nova/velha tática de reprimir o jornalismo.
A rede internacional de jornalismo investigativo (GIJN) lançou uma ferramenta de avaliação de segurança de jornalistas. Em português!
Um ebook sobre justiça e segurança dos jornalistas na América Latina e Caribe.
O que repórteres devem saber para escrever sobre teorias da conspiração?
No Gizmodo, Caio Maia dá caneladas na ética do jornalismo da Folha de S.Paulo.
Nas últimas semanas, cartas em defesa da democracia estão sob os holofotes da mídia. O ombudsman da Folha acha até que o jornal deva assinar.
Saiu pesquisa da Quaest sobre o STF e a democracia no Brasil. Vale conferir os dados sobre confiança, imagem pública e fake news…
Coalizão Direitos da Rede, da qual fazemos parte, lançou um compromisso pela garantia dos direitos digitais no país. A pauta interessa a toda a sociedade, ainda mais em tempo de eleições.
AGENDE-SE
A revista Culturas Midiáticas prorrogou prazo de recebimento para o dossiê sobre desinformação. Tempo extra vai até dia 15…
Cuadernos.info também prorrogou: agora é dia 26.
Ainda neste mês, de 24 a 26, tem o 1º Colóquio Nacional sobre o Clima, remoto e gratuito. Nossos parceiros da Fiquem Sabendo e da Rede Nacional de Combate à Desinformação estarão presentes!
Setembro será mês de evento sobre novos modelos de jornalismo na Universidade de Coimbra, em Portugal.
E até dia 15 tem chamada aberta para um simpósio virtual sobre ataques contra jornalistas. O evento acontece em novembro.
Temas livres para o próximo número da Cambiassu. Artigos até 19 de setembro.
Final de outubro tem o 9º Encontro Regional Sul de História da Mídia.
Mande seu resumo para o 2º Congreso Internacional de Investigación y Transferencia en Comunicación (Intracom): até 12 de outubro.
Também em outubro, em Portugal, tem Lusocom.
Em 2023, Mediapolis terá número especial sobre Comunicação e Jornalismo em Contextos Eleitorais. Você pode mandar artigo até 30 de novembro.
Você acabou de ler mais uma newsletter do objETHOS produzida por Dairan Paul & Rogério Christofoletti. Dia 24 tem mais.
Esta é uma realização do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.