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Pra que serve a liberdade de imprensa?
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Pra que serve a liberdade de imprensa?

Edição 104: liberdade é uma soma de fatores + de olho na CPI + cobertura sobre América Latina

objETHOS
Jun 16, 2021
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Olá, assinante!

Você já leu por aqui e em muitos outros lugares que a liberdade de imprensa está passando por grandes provas de fogo nos últimos anos. Governantes autoritários atacam o jornalismo porque ele incomoda, cobra soluções, denuncia e mobiliza setores da sociedade a exigir governos melhores. Omissões de parte do Judiciário e do Parlamento contribuem com o clima de tensão permitindo mais perseguição. Hordas de fanáticos e milícias digitais aproveitam as brechas para hostilizar, ofender e até agredir jornalistas na frente de todos.

Contrariando o senso comum, o professor Eugenio Bucci escreveu recentemente que não precisamos da liberdade de imprensa para que o jornalismo nos diga a verdade. “A imprensa livre não entrega a ninguém a verdade embrulhada para presente, mas pode, com um alto grau de eficiência, inibir as mentiras que vêm do poder”, diz.

É uma maneira original de enxergar o problema. Mas as condições para o exercício do jornalismo dependem da soma de diversos fatores políticos, sociais, culturais e econômicos. Essa tal liberdade pode ser uma concessão das elites e dos governos, mas também pode vir da pressão de uma sociedade e uma cidadania mais exigentes e fortalecidas. No Brasil, esse horizonte está cada vez mais distante.

Pra que mais a liberdade de imprensa pode servir no país dos Bolsonaros?


DE OLHO NA CPI

Já cansou das perguntas mornas de Renan Calheiros (MDB-AL) e das palestrinhas insossas de Marcos Rogério (DEM-RO)? Nós não. Por isso, parte da equipe do objETHOS está acompanhando como a mídia está cobrindo a CPI da Covid. Por quê? Simplesmente porque é o evento político mais importante do ano até agora.

Álisson Coelho, por exemplo, chama a atenção que esta CPI é midiaticamente diferente de todas as outras. Jéferson Silveira Dantas nos lembra da dimensão histórica deste evento.

Amanhã tem texto novo no site. Aliás, vamos publicar artigos todas as quintas até o final da Comissão Parlamentar de Inquérito.


DIVERSIDADE NOS INDIES

Duas boas reportagens e um projeto para dar mais diversidade ao jornalismo. Salve nos favoritos!

  • Abaré Escola (AM) lançou o Negritude Cabocla, um banco de dados com fontes negras amazonenses. E a última edição da Cajueira trouxe iniciativas independentes da região Norte.

  • Já que estamos no tema, destacamos a reportagem investigativa da InfoAmazônia (AM) com a Mongabay sobre uma cadeia de mercado ilegal de manganês que coloca em risco os povos Kayapó, no sudeste do Pará.

  • O projeto de reportagens “Uma guerra viciante” é uma colaboração de diversos veículos internacionais que discute os efeitos da política de drogas na América Latina. Por aqui, Ponte Jornalismo (SP) abordou o encarceramento em massa da população negra.


RADAR

Lá nos idos de 1922, Walter Lippmann já escrevia que o jornalismo é uma “janela para o mundo”. Não quer dizer que ele espelha a realidade, mas a constrói por meio de representações sociais. E isso acaba incluindo estereótipos, diz o autor de Opinião pública.

É o caso de países da América Latina, praticamente invisíveis nos jornais brasileiros e que incrivelmente estão no mesmo subcontinente. Uma pesquisa assinada por Camilla Tavares e Marina Fernandes comprova que as editorias “Mundo” de Folha de S. Paulo e O Globo dedicam pouco espaço aos hermanos. E quando aparecem, a tendência é que estejam relacionados aos Estados Unidos. É como se os valores geopolíticos norte-americanos contaminassem os critérios de noticiabilidade do jornalismo.

A análise de 1.996 matérias concluiu que a cobertura dos jornais dá mais visibilidade a pautas sobre corrupção e imigração ilegal. São temas relevantes e que devem ser noticiados, escrevem as autoras. Mas essa preponderância restringe o olhar sobre a AL, o que colabora para a “validação de um imaginário popular negativo em relação aos latino-americanos”.


JORNALISMO PARA AS DEMOCRACIAS

  • O enquadramento das disputas entre grupos indígenas e proprietários rurais em Mato Grosso do Sul pelas páginas do jornal Correio do Estado: análise de Marcos Paulo da Silva e Maurício Raposo demonstra que o veículo favorece as elites econômicas porque “compartilham os atributos morais e constitutivos que definem o verdadeiro ser sul-mato-grossense”.

  • A antropóloga Isabela Kalil analisou teorias conspiratórias mobilizadas por Bolsonaro e seus apoiadores no primeiro ano da pandemia. Tem resumo da pesquisa aqui.

  • Dois paradigmas para se pensar a formação e ensino de jornalismo no Brasil.

  • Ética do discurso e comunicação para a paz nesta entrevista com Eloísa Nos Aldás, da Universitat Jaume I.

  • Acaba de sair o segundo volume da pesquisa Media for Democracy Monitor, que analisa como as condições estruturais de diversos países favorecem ou impedem o exercício do jornalismo em sociedades democráticas. Baixe!


SECOS & MOLHADOS

  • Sabe a eleição no Peru? Pois é. O tribunal de ética do Conselho de Imprensa de lá emitiu comunicado falando de ética jornalística para a cobertura.

  • Proteger a identidade das fontes, o melhor uso dos adjetivos e igualdade de gênero nas redações: mais um episódio do podcast do Consultório Ético.

  • Uma tenista abandonou um torneio do Gram Slam para não falar com jornalistas. É claro que o caso de Naomi Osaka é mais complexo que isso, e a melhor síntese foi feita pelo Farol Jornalismo. Moreno Osório deu suas raquetadas.

  • Sim, você viveu para ver a Secom questionar a ética jornalística da The Economist.

  • “Chefes vestem Prada, trabalhadores não ganham nada”, gritaram os jornalistas da prestigiada New Yorker em frente à casa da publisher Anna Wintour. Eles organizaram um sindicato da revista para exigir melhores condições de trabalho.

  • Lá e cá: desertos de notícia também são realidade na Argentina. Um terço da população vive neles.

  • Em 2000, o fotógrafo Alex Silveira perdeu a visão ao ser atingido por policiais que disparavam balas de borracha. Demorou duas décadas até o STF responsabilizar o Estado. E houve ministro que votou contra.

  • Volta e meia falamos de plágio ou conteúdo jornalístico reproduzido em outros sites sem os devidos créditos. Dessa vez a Folha reconheceu o erro: publicou reportagem com trechos idênticos de outro texto do Brasil de Fato. Mas nem todos veículos fazem isso…

  • Dê boas-vindas para a Associação de Jornalismo Digital. Ela reúne 30 iniciativas de todas as regiões do país.

  • A busca do jornalismo profissional feito sobre, para e a partir das periferias e favelas brasileiras por assegurar o Direito ao Trabalho. Um texto da nossa pesquisadora Juliana Freire Bezerra.

  • Também em nosso site, Clarissa Peixoto escreve sobre o jornalismo hegemônico e os limites da crítica ao bolsonarismo.

  • Que tal uma newsletter com bolsas de estudo, cursos e programas de financiamento para jornalistas? Conheça e assine a Vem Pro Fluxo.

  • Uma entrevista sobre segurança digital com a pesquisadora e hacker antirracista Nina da Hora.

  • Outra, com Julia Cagé, a acadêmica francesa que estuda sobrevivência sem perder de vista a regulação das big techs.

  • Prêmios de prestígio não seguram a onda dos meios locais. Segundo o Tow Center, 9 em 10 jornais ganharam o Prêmio Pulitzer por reportagens locais na última década tiveram algum tipo de corte em 2020, nos EUA.

  • Onze anos depois, qual o legado do grande vazamento de dados protagonizado pelo WikiLeaks? Reportagem multimídia da Mescla revisita o caso e conta.

  • Qual é a dieta de notícias mais saudável? No Nieman Lab, Joshua Benton fala de uma pesquisa que pode surpreender até mesmo as redações.


AGENDE-SE

  • O Prêmio Gabo de Jornalismo está com inscrições abertas. Tudo aqui!

  • Hoje é o último dia para você se inscrever no curso gratuito sobre jornalismo de educação oferecido pela Jeduca e Abraji.

  • Amanhã, às 20h30, tem a live “Continente africano na cobertura da mídia brasileira". No Instagram do Observatório de Mídia da UFFRJ.

  • Já se programou pra participar dos eventos do 2º semestre? Acompanhe as datas de encerramento das chamadas: Encontro Nacional de História da Mídia — 20/06; Seminário de Pesquisa em Jornalismo Investigativo — 20/06; Escola de Verão da ALAIC — 30/06; Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação — 12/08; Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo — 15/08. Ufa!

  • A edição de dezembro da Revista EPTIC será sobre concentração na Internet e propostas de regulação das plataformas. Participe submetendo artigo até 20/08.

  • Chamadas que já passaram por aqui, mas ainda estão valendo: dossiê disputas éticas em tempos extremos, na Mídia e Cotidiano (até 28/06), populismo, pós-verdade e mídias digitais, na Media & Jornalismo (até 30/09); jornalismo e empreendedorismo, na Brazilian Journalism Research (até 30/11); jornalistas e construção midiática dos problemas públicos, na Sur le journalisme / About journalism / Sobre jornalismo (até 01/12).


Esta foi mais uma edição produzida por Dairan Paul e Rogério Christofoletti. A próxima chegará em sua caixa de e-mail quando 2021 já estiver na metade! Em 30 de junho.

Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.

Como estamos dirigindo? >>> objethos@gmail.com
Twitter: @objethos | Instagram: @objethos_ufsc | Facebook: @objethos
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