Pra que servem as comissões de ética?
Edição 111: podcasts + o campeão da desinformação + deontologia na era digital
Alô, assinante!
A Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina advertiu publicamente o mais conhecido colunista político do estado. A sanção está prevista no Código de Ética, e foi dada após análise de representação feita por outro jornalista.
Convenhamos, isso não é comum.
Muita gente acha que o espírito de corpo blinda os profissionais e evita punições, mas o assunto é mais complexo. Diferente da Medicina e do Direito, os órgãos deontológicos do Jornalismo não podem cassar registros profissionais nem impedir que pessoas atuem na área. A bronca pública é uma das punições mais graves, mas há quem ache pouco. Resultado? São raras as denúncias que chegam até as comissões locais de ética, gerando a impressão de que elas não funcionam.
O caso desta semana mostra o contrário. As comissões zelam pela dignidade da categoria e não se deixam impressionar por currículos. O jornalista repreendido, por exemplo, já foi presidente do sindicato e de outra entidade classista, ajudou a fundar o curso de jornalismo local, tem mais de 50 livros publicados, e atualmente dirige a Academia Catarinense de Letras.
Talvez por isso reine tanto silêncio sobre o caso na imprensa e na sociedade que a rodeia…
OUÇA!
Ninguém nos pediu, mas a gente oferece assim mesmo. Aqui vai uma lista de podcasts que todo jornalista deveria conhecer. Busque no seu tocador favorito...
Reflexo: a Lupa vasculha e remexe o já espesso caldo das fake news.
Vida de jornalista: depoimentos de profissionais sobre a dureza e a delícia de ser o que se é.
Jornalismo sem trégua: Angelina Nunes narra detalhes dos assassinatos de Tim Lopes e Jefferson Pureza.
Consultório Ético: respostas a dilemas éticos dadas pela Red Ética/Fundación Gabo, nossa parceira.
Future of Journalism: equipe do Reuters Institute discute suas pesquisas em episódios curtos.
Conhece outros que merecem estar na lista? Mande pra gente!
LEIA!
Lula e Bolsonaro se encontram no segundo turno da eleição de 2022. Não é profecia de militante nem previsão de cientista político. É o argumento da peça O Debate, de Guel Arraes e Jorge Furtado, ainda inédita nos palcos mas que está chegando às livrarias. Os autores foram entrevistados no Roda Viva da TV Cultura anteontem.
Não bastasse o enredo intrigante, a peça discute o jornalismo e sua ética em tempos encharcados de desinformação e ultra-polarização. Oportunidade rara de ver a ética profissional refletida em um produto artístico. Sim, isso já aconteceu em O Mercado de Notícias, do próprio Furtado, mas agora a faísca vira fogo!
LEIA TAMBÉM!
Vem aí mais um livro de Javier Darío Restrepo, referência do jornalismo colombiano e criador do Consultório Ético, da Fundación Gabo. “Pensamientos: discursos de ética y periodismo” será lançado no próximo sábado, 25, na Feira do Livro de Medellín. A obra reúne 23 textos de Restrepo que datam de 1990 a 2019, ano da sua morte. O material foi editado pela filha, Glória, e se soma ao importante legado deixado por essa bússola moral latino-americana.
NO OBJETHOS…
No Observatório da Ética Jornalística, as coisas andam agitadas e estamos vivendo como se não houvesse amanhã (talvez nem haja mesmo!).
Kalianny Bezerra escreveu sobre a CPI pela lente das agências de checagem
Também ainda sobre a CPI da Covid-19, Mariane Navas se pergunta se este importante instrumento democrático não pode se tornar um tigre sem dentes.
Dairan Paul coloca o dedo na ferida sem perder a ternura. Gentilmente, roga à grande mídia para dar os devidos créditos aos meios independentes.
Lembra o 7 de setembro? Denise Becker aponta para uma súbita mudança de “humor” da mídia. Aliás, nossa pesquisadora Denise é mestre em Jornalismo agora! Ela defendeu sua dissertação na semana passada e estamos bem felizes.
RADAR
Um sobrevoo pelos desafios éticos do jornalismo na era digital: essa é a proposta do capítulo assinado por João Miranda no e-book “De que falamos quando dizemos jornalismo?” (editora Labcom), disponível para download.
Segundo o professor da Universidade de Coimbra, novas tecnologias redimensionaram antigos dilemas da profissão. Alguns deles você já deve imaginar, como a pressão da internet por informações rápidas e nem sempre precisas. Ou a exigência das empresas por jornalistas que assumam cada vez mais funções...
Além desses, outros problemas também chamaram a nossa atenção. Destacamos três:
os limites da privacidade: tudo que está na internet é público? A BBC, por exemplo, recomenda cuidado ao coletar informações de perfis pessoais nas redes.
postura crítica: tudo que está na internet é verdade? Jornalistas precisam saber discernir o que é desinformação, material propagandístico ou discurso de ódio.
publicidade mascarada: tudo que está na internet é jornalismo? Miranda lembra que conteúdos patrocinados devem ser claramente sinalizados para não romper a fronteira que separa o espaço editorial do comercial.
Além do capítulo assinado pelo pesquisador português, o e-book toca em temas como o uso de inteligência artificial, assédio a mulheres jornalistas e sustentabilidade nos modelos de negócio dos jornais.
O LÍDER DA DESINFORMAÇÃO
Tem dossiê imperdível na revista Fronteiras sobre desinformação. Nosso destaque vai para a análise de Marília Gerke e Marcia Benetti sobre 300 casos que circularam nos primeiros meses da pandemia. A maior parte da disseminação se dá pelo Facebook, tem Osmar Terra como principal ator responsável pelo espalhamento, e atribui contexto falso ao conteúdo enganoso.
“Jornalismo para a paz” é um modelo orientado pela escuta, alteridade e justiça social. Mas como isso se dá na prática? Alex Salinas e Tayane Abib entrevistaram correspondentes espanhóis para refletir sobre esses valores.
Que tipo de jornalismo produzem os novos arranjos de trabalho dos jornalistas de São Paulo? O compromisso é com a pluralidade, defesa da democracia e engajamento pelos direitos humanos, segundo os resultados do novo ebook organizado por Roseli Figaro, no âmbito do Centro de Pesquisas em Comunicação & Trabalho.
Tem ebook gratuito da Fundación Gabo com reportagens e crônicas sobre drogas escritas por jornalistas latino-americanos. The Intercept, Agência Pública e Agência Retruco estão lá!
SECOS & MOLHADOS
Você se arrepia toda vez que falam em regulação da mídia? Respira. Acontece bastante no mundo civilizado.
Por que tem jornalista que joga tudo pro alto nesses tempos bicudos? Esta entrevista com um jovem jornalista dos EUA pode trazer algumas pistas. Isso tem acontecido, inclusive, na indústria de tecnologia.
Palácio do Planalto barrou repórter do SBT por causa da roupa que ela estava usando: traje social e bermuda de alfaiataria. Ainda bem que essas autoridades cuidam da moral e dos bons costumes da Nação, né?
Alex Silveira, repórter fotográfico que ficou cego de um olho devido à bala de borracha da PM de São Paulo, será homenageado no Prêmio Vladimir Herzog.
Programa de Proteção Legal para Jornalistas da Abraji vai defender uma jornalista que atua em Pernambuco. É o segundo caso de amparo jurídico.
Aliás, a Abraji lançou um canal para receber denúncias de ataques de gênero contra profissionais da imprensa. Aproveite e também acesse a Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores, ferramenta para denúncia online contra ataques e ameaças, do Instituto Vladimir Herzog e ONG Artigo 19.
Um perfil sobre o mítico Ben Bradlee, o editor das reportagens do Watergate e dos Papeis do Pentágono. Em agosto, teria completado 100 anos!
Conheça o projeto Postar ou Não Postar?, liderado pelas jornalistas Taís Seibt e Marília Gehrke: um combo que reúne site, ebook, dicas e podcast que ajudam o grande público a não espalhar desinformação.
E já que estamos no assunto, não deixe de ver O Desinformante, site que se propõe a trazer informações confiáveis sobre conteúdos desinformativos.
AGENDE-SE
Terminam hoje as inscrições para o InfoVacina, programa da Agência Bori em parceria com o Sabin Vaccine Institute que oferece mentoria a jornalistas sobre cobertura da vacinação.
Que tal um curso gratuito voltado ao jornalismo científico, crise climática e Covid? Promoção do Centro Knight com o Instituto Serrapilheira. São quatro módulos semanais, de 11 de outubro a 7 de novembro.
Vagas limitadas neste curso gratuito da Abraji sobre políticas públicas para jornalistas. Início em 4 de outubro.
Edital da Jeduca na área para quem tem uma boa pauta sobre educação. Até 25 de outubro, jornalistas e estudantes podem se inscrever para concorrer a bolsas de reportagem.
Será nessa sexta-feira o seminário Tecnologia no Brasil 2020-2030: plataformização, IA e soberania de dados. São duas sessões à tarde, incluindo debatedores como Nina da Hora, Sergio Amadeu, Rafael Evangelista, Helena Martins e Rafael Grohmann. Programação aqui e transmissão via YouTube.
Num tempo em que todos são bem sucedidos e performam com muito sucesso em tudo, que tal um evento sobre nossas falhas e ruínas? Esta é a proposta do #Fail - Tecnologia e Política, que acontece de 27 de setembro a 1º de outubro.
Eduardo Meditsch, Alfredo Vizeu, Dione Moura e Venício de Lima estão entre os professores que participam do minicurso Comunicando com Paulo Freire: teoria para transformar as práticas. Será a partir de 1ª de outubro, com inscrições gratuitas até 30 de setembro.
De 18 a 20 de outubro acontece o I Congresso Brasileiro de Comunicação Pública, Cidadania e Informação, uma realização da Universidade Federal de Goiás. Na programação, nomes como Eugênio Bucci, Maria Welena Weber, Fernando Paulino, Iluska Coutinho e Jorge Duarte. Inscreva-se!
Dois eventos acadêmicos que acontecem na Espanha e que podem interessar: 6º Congresso Internacional de Micromachismos recebe propostas de comunicação até 24 de outubro e 1º Congresso Internacional de Pesquisa e Transferência em Comunicação com prazo até 22 de novembro.
Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo (REBEJ) prorrogou prazo do dossiê “O ensino de jornalismo no Brasil pós-diretrizes curriculares de 2013”. Você pode mandar seu texto até 3 de outubro.
Mais prorrogação! Desta vez na Líbero, com o dossiê “Jornalismo e conhecimento em tempos de capitalismo pandêmico e de expansão da desinformação”. Prazo: 5 de outubro.
Chamadas que já passaram por aqui: mídia e populismo (Media&Jornalismo — até 30/09), censura e violência digital contra jornalistas (Digital Journalism — 15/10), economia política da desinformação (Social Media + Society — 15/10), jornalismo e empreendedorismo (Brazilian Journalism Research — 30/11), jornalismo e futebol (Mediapolis — 30/11), jornalistas e construção midiática dos problemas públicos (Sur le journalisme — 01/12), radiojornalismo, democracia e cidadania (Esferas — 31/01/2022), ética da comunicação digital (Revista Mediterránea de Comunicación — 01/03/2022).
Com curadoria de Dairan Paul e Rogério Christofoletti, esta newsletter volta em 6 de outubro. Aguarde!
Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.