Precisamos regular a inteligência artificial já!
Edição 142: mulheres nas redações + ativismo x objetividade + consumo de notícias
Olá, assinante!
A essa altura, ninguém aguenta mais ver matérias que “entrevistam” o ChatGPT ou que denunciam respostas falhas ou ridículas. É necessário avançar na cobertura do setor, deixar pra trás o maniqueísmo (tecnofobia-tecnofilia) e contribuir para qualificar o debate público.
Uma das abordagens mais comuns é a que tenta medir os impactos da IA nas nossas vidas, e já tem especialista dando dicas para mitigar riscos legais e éticos, e surgindo guias ou tutoriais para capacitar jornalistas a tirar o melhor proveito dos robôs. Mas outro aspecto não pode ficar de lado: precisamos discutir os princípios que vão nortear o desenvolvimento desses recursos. Esses valores vão “abastecer” os sistemas e definir como máquinas devem agir e reagir sempre que provocados.
Como evitar que reportagens geradas por IA causem danos ou aumentem a vulnerabilidade de pessoas? Como programar sistemas que não sejam usados como máquinas de mentiras? Que tipo de controle sobre as IAs terão jornalistas de países periféricos e dependentes de tecnologia como o Brasil? Como nosso modo de fazer jornalismo pode moldar essas ferramentas?
Não tem jeito! Temos que estabelecer regras para o funcionamento da coisa.
DEMOROU
O verbo “regular” gela o sangue dos inovadores, mas é necessário fixar limites em todas as áreas e mercados. Como as novidades surgem a cada segundo, precisamos correr. E mais: participar do processo, listando preocupações, sugerindo e debatendo as condições que podem garantir que essas soluções sejam verdadeiramente boas e cheguem à maior parte das pessoas.
Diferente de repórteres e editores, a inteligência artificial não tem compromisso com a verdade, adverte a professora Emily Bell. Ela também diz que está na hora de “a turma da ética” sentar à mesa com os tecnólogos para definir o que vai estar nessas inteligências não-orgânicas. No Brasil, temos discutido ultimamente a regulação das plataformas digitais, mas o debate sobre limites para as IAs também já é uma realidade em vários setores.
A Wired, uma das principais revistas de tecnologia do mundo, já definiu limites para o uso jornalístico da IA. O que os veículos brasileiros estão esperando?
PENSATA
“Qualquer que seja a nova forma do jornalismo, ela precisará de um abundante manancial de jornalistas éticos e capazes. Essa necessidade nunca mudará.”
Philip Meyer, jornalista estadunidense
NOSSO SITE
O que tem de novidade por lá?
Carlos Castilho sinaliza três pedras no caminho do jornalismo.
Lívia Vieira mostra como o paywall ainda tem questões éticas em aberto.
Pesquisador do objETHOS abre semana acadêmica na Federal do Acre.
Temos uma vaga de doutorado para quem quer trabalhar conosco…
Desde ontem estamos participando do Media Ethics Conference 2023.
OBJETIVIDADE OU NÃO?
É possível que o jornalismo seja confiável sem ser objetivo?
Nos Estados Unidos, um relatório tenta convencer as redações a se desapegarem desse valor. Em entrevista ao Reuters Institute, Carlos F. Chamorro defende que jornalistas deixem de lado seu ativismo para manter-se como fiscalizadores do poder. Uma atitude anula a outra? Se você pesquisa o tema, não quer mandar seu artigo para esta chamada das revistas Brazilian Journalism Research e Sur Le Journalisme?
RADAR 1
Ter mulheres na chefia das redações faz alguma diferença? Um artigo publicado na Journalism diz que sim. Karin Assmann e Stine Eckert conduziram um estudo com 53 jornalistas em 21 redações na Alemanha e identificaram mudanças positivas nas condições de trabalho e na cultura das organizações. Alguns dos achados são maior transparência no processo de contratação de novos profissionais e na progressão de carreira, além de apoio da organização para licenças parentais e creches.
A pesquisa analisa o cenário dez anos após o início da campanha pelo aumento de lideranças femininas nas redações e, apesar de ainda existir desigualdade entre os sexos e de o ambiente das redações ainda ser bastante masculino, as mudanças implementadas nas organizações beneficiam todos os funcionários a encontrar melhores soluções para balancear carreira e vida pessoal, bem como ajudam a abrir caminho para mais profissionais mulheres no jornalismo.
RADAR 2
É difícil convencer os leitores a pagarem por notícias, mas, mais complicado ainda é fazer com que o consumo de notícias faça parte da rotina. A maioria das pessoas para de utilizar suas assinaturas depois de três semanas, e é sobre a construção do hábito de consumo de notícias que o pesquisador Tim Groot Kormelink escreveu em artigo recentemente publicado na Digital Journalism.
Por meio da análise do comportamento de 68 entrevistados ao longo de três semanas, o autor identificou que fatores como ter uma boa experiência com o conteúdo, a sensação de ser“recompensado” ao sentir o tempo mais bem investido na leitura de notícias do que em outras atividades (como assistir a canais de streaming ou rolar o feed de redes sociais) e a associação do hábito de leitura a outras atividades (como consumir notícias durante o café da manhã, por exemplo) facilitam a adoção da prática no dia a dia. No entanto, obstáculos como a falta de rotina, o esforço empregado e a desilusão são empecilhos para a construção de hábitos mais duradouros. Em suma, o estudo indica que o consumo rotineiro de notícias está diretamente ligado ao quanto o usuário é estimulado por essa atividade.
SECOS & MOLHADOS
Crise de confiança na mídia? Ouça este podcast.
Que tal uma publicação sobre alfabetização midiática? Tem esta aqui.
Em Portugal pode rolar uma greve de jornalistas…
Na Inglaterra, uma treta entre a BBC e o craque Liniker revela limites para a opinião nas redes sociais e a liberdade de crítica ao governo conservador…
Mídia brasileira parece preferir comprar material de agência do que de correspondente nacional na Ucrânia. Leia o desabafo de um colega.
Especialistas advertem: cobrir migrações exige cuidados éticos adicionais.
Repórter denuncia trabalho análogo à escravidão e é demitido em seguida.
A rotina no Planalto melhorou para as jornalistas, mas a violência não para: teve atentado em Rondônia, ataque de senador no DF e assassinato em São Paulo.
Não está na hora de um novo paradigma para proteger o jornalismo?
Estudo mostra que Brasil só perde para Índia em desinformação eleitoral.
Dinheiro e plataformas: Fenaj quer tirar o bode da sala no PL das Fake News.
Vem aí mais uma edição do Atlas da Notícia.
Você é jornalista? Participe da pesquisa Worlds of Journalism.
Participe também desta outra pesquisa: é sobre mulheres no rádio brasileiro.
AGENDE-SE
Que tal um curso gratuito e online sobre tendências e habilidades da profissão?
E outro sobre como cobrir a crise climática?
Não quer participar do Prêmio Gabo 2023? Inscrições até 22 de março.
Aliás, dia 20 é o novo prazo máximo para artigos na 32ª Compós.
E de 27 a 31 deste mês tem a Semana Nacional de Jornalismo da ABI.
Já pensou participar de um congresso sobre economia política da comunicação lá no Chile? Submissões até 30 de março, conferência em outubro e textos em português, inglês ou espanhol. Ah! Será na Universidad Diego Portales, em Santiago.
Final de março é o prazo máximo para participar do seminário de pesquisa da Abraji sobre jornalismo investigativo.
Na primeira quinzena de abril temos o 24º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), em formato online e presencial. Inscreva-se!
O impacto da desinformação nas rotinas profissionais e soluções de IA são temas do próximo especial da Estudios sobre el Mensaje Periodístico. Até 14 de abril.
Em 28 de abril acontece a conferência Ética, Urgência e Jornalismo Climático.
Dois dossiês na revista Eptic com o mesmo prazo: comunicação e marxismo e reforma das telecomunicações. Até 30 de abril.
Festival 3i já tem datas e acontece em maio.
Tem evento no Marrocos sobre transformações no jornalismo. Deadline: 30/05.
“O jornalismo, uma profissão de luta” é o título do novo dossiê a ser editado pela revista Sur le journalisme. Leia a chamada e submeta artigo até 31 de maio.
Na revista Mídia e Cotidiano, uma edição sobre comunicação e democracia na América Latina. Submissões até 04 de junho.
15 de junho é o prazo final para mandar textos para o dossiê Meios e Transição Democrática da revista Mediapolis.
Sustentabilidade: baita dossiê na Ámbitos, com um prazo bem tranquilo: 30 de setembro.
Natália Huf e Rogério Christofoletti assinam esta edição, com uma pequena ajuda de Dairan Paul. A próxima será deixada na sua caixa postal no dia 29.
Esta newsletter é uma realização do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.
Bastante material. Excelente conteúdo