Sete desejos para o jornalismo em 2023
Edição 139: manchetes que queremos + cobertura da Copa do Mundo + férias
Olá, assinante!
Final de ano é tempo de acerto de contas, balanços, listas de presentes e de resoluções. Tem também as listas de desejos e nos atrevemos a fazer a nossa. Ela não é definitiva, claro, e você pode ajudar a completá-la, mandando um email pra gente.
Estas são algumas das manchetes que gostaríamos de ler em 2023!
Pesquisa aponta que mídia independente é a mais sustentável em décadas
Jornalismo brasileiro retoma seu melhor índice de confiança pública
Tendência: mais mulheres e negros assumem comando das redações
Setor da comunicação gera empregos em todas as regiões
Governo adota agenda transparente e repórteres voltam a ser respeitados
Congresso regula plataformas e dá fôlego para indústria jornalística
Brasil fecha o ano sem mortes e perseguição a jornalistas
Que os nossos e os seus desejos se realizem no próximo ano. Aproveite a leitura desta última newsletter em 2022!
É NÓIS
Nas últimas semanas, a roda do hamster não parou de girar aqui no objETHOS. Confira um pouco do que fizemos:
Nossa pesquisadora Kalianny Bezerra desembarcou na Alemanha para um ano de estudos de doutorado.
Junto com dezenas de entidades, assinamos uma carta aberta ao presidente eleito, defendendo a comunicação como um setor prioritário para o governo Lula.
Denise Becker deu entrevista à LatAm Journalism Review e defendeu a transparência como forma de resgate da credibilidade jornalística.
Rogério Christofoletti relatou como pesquisadores da comunicação estão discutindo diretrizes éticas para a pesquisa.
Raphaelle Batista criticou o cacoete da grande imprensa de se apegar a estereótipos quando se trata de cobrir o nordeste do país.
Claro que teve Copa do Mundo: Kalianny Bezerra escreveu sobre mulheres narradoras, e Raphaela Ferro mostrou como Casimiro não é só novidade…
PENSATA
“Sobreviver bem a este tempo de destruição criativa depende de cada um de nós travando nossas batalhas individuais de integridade, e pela integridade.”
Maria Ressa, jornalista ganhadora do Nobel da Paz em 2021
RADAR ENTREVISTA 1
Três perguntas para Leda Costa, professora de Comunicação (UERJ) e pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME):
Como as questões éticas do jornalismo permeiam a cobertura esportiva?
Trata-se de um tipo de jornalismo em que a relação entre notícia e entretenimento se mostra absolutamente próxima e, muitas vezes, é notável uma dificuldade de demarcar essas instâncias. O jornalismo esportivo lida com um objeto que, por si só, envolve competição, identidades e tantos outros agenciamentos que colocam a emoção como norteadora das narrativas jornalísticas.
Essa proximidade requer do jornalismo esportivo um cuidado imenso com a questão ética para que a brincadeira, a jocosidade, não ultrapasse certos limites. O caso Muralha, ex-goleiro do Flamengo, me parece exemplar nesse aspecto. Ele foi alvo de ofensas, teve a sua capacidade técnica subjugada pela imprensa e a imagem manchada por conta das críticas lançadas contra sua atuação em campo. O jornalismo esportivo lida com pessoas e, como qualquer outro jornalismo, precisa primar pela responsabilidade.
RADAR ENTREVISTA 2
Em sua avaliação, no que a imprensa está acertando e errando na cobertura da Copa até então?
A imprensa acerta ao oferecer um farto cardápio de informações e análises dos aspectos técnicos dos jogos, assim como ampla cobertura com mesas redondas e programas de variedades que buscam também o lado humorado da notícia.
Mas tem perdido a oportunidade de debater de modo mais incisivo questões sociais por intermédio do futebol. A Copa está sendo realizada num país que fere frontalmente os direitos humanos, ameaça de morte a população LGBTQIA+, e é extremamente opressor contra as mulheres. Isso sem mencionar os problemas que cercam imigrantes e o trabalho análogo à escravidão ao qual foram expostos os operários envolvidos nas obras dos estádios.
Tratava-se de uma ótima oportunidade de levar a público essas questões com análises de especialistas. Parte da cobertura da imprensa parecia estar alheia a esses problemas, mostrava o Catar em suas belezas e curiosidades, muitas vezes beirando a um tom de propaganda turística.
A Copa tem seu aspecto festivo, mas é preciso atentar para o papel social e informativo do jornalismo esportivo. Trazer à cena debates em torno das questões que envolvem um país autoritário e com tantos vetos aos direitos humanos deveria ter sido um investimento maior na cobertura do jornalismo esportivo, ou de grande parte dele.
RADAR ENTREVISTA 3
Mulheres ocupam cada vez mais espaço como repórteres, narradoras e comentaristas, mas ainda são descredibilizadas por colegas de profissão ou mesmo pelo público mais conservador. Como você percebe a inserção delas nesses lugares?
No caso específico da Copa, confesso que fiquei decepcionada. Houve o acionamento de jornalistas diversos, de comentaristas, geralmente ex-jogadores, numericamente vultosos, para dar conta de uma cobertura ampla. A grande maioria era de homens. Em muitas mesas redondas colocava-se uma mulher fazendo parecer que ela estava ali somente para constar.
A narradora Renata Silveira, por exemplo, narrou pouquíssimos jogos. E poucas foram as comentaristas. Muitos ex-jogadores foram chamados, mas e as ex-jogadoras?
A inserção feminina tem sido maior em comparação a anos anteriores, sobretudo se pensarmos de um modo geral nas coberturas dos campeonatos locais e nacionais. Mas, para uma Copa do Mundo, o evento mais importante do futebol, ainda se faz necessário que haja um investimento em maior participação das mulheres, porque há muitas absolutamente competentes para estarem nesse espeço.
NOTÍCIAS AUTOMATIZADAS
Tem pesquisadora do objETHOS na nova edição da revista portuguesa Media & Jornalismo! Juliana Rosas apresenta resultados de sua tese de doutorado sobre as implicações democráticas do ombudsman de imprensa. Ela conclui que veículos noticiosos e colunistas têm visões diferentes sobre o que é democracia.
Notícias escritas por humanos são iguais àquelas desenvolvidas por algoritmos? Três pesquisadores encontraram semelhanças no formato, com prevalência da pirâmide invertida, mas diferenças nos valores-notícia, uso de fontes e nível de interpretação contido no texto.
O ambiente online agravou a hostilidade do público contra a imprensa, sobretudo no caso de mulheres jornalistas que sofrem assédio.
Precisa de uma ajudinha metodológica? Então, baixe um e-book sobre o tema coordenado por pesquisadoras da UFRGS.
Violação às liberdades de expressão e de imprensa em 14 países da América Latina, incluindo Brasil, é o tema do relatório Sombra 2021, da rede Voces del Sur. Acesse a versão em português traduzida pela Abraji.
SECOS & MOLHADOS
O que está acontecendo com Julian Assange mostra como o jornalismo está sob ameaça. Quem alerta é Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do Wikileaks.
Vingativo! Ronaldo barra repórteres do UOL em evento após matéria crítica.
Knight Center quer colher percepções sobre transparência e acesso à informação na América Latina. Bora responder à pesquisa?
Aliás, só 2/3 dos sites de órgãos públicos são mesmo transparentes, mostra estudo. Esperava-se pelo menos 95%…
Pra marcar 20 anos de sua criação, a Abraji lançou um documentário. Veja aqui.
Braincast pergunta: por que iniciativas como a Choquei incomodam o jornalismo?
Na Inglaterra, Reuters Institute lançou relatório sobre jornalistas no TikTok.
Na Espanha, há mal-estar com a tiktokzação.
Nos EUA, não é só desconforto: tem greve e desconfiança generalizada…
Perdeu o encontro Internacional de Pesquisa em Jornalismo? Tudo aqui.
E o 1º Seminário Internacional de Pesquisa em Comunicação, Esporte e Mídia? Novamente, todas as palestras estão disponíveis.
Já parou pra ver o especial do Farol sobre como será o jornalismo no Brasil em 2023? Recomendamos a leitura na íntegra, e em particular o texto de Rafiza Varão sobre ética e a meia-volta do jornalismo.
AGENDE-SE
Que tal um curso gratuito do Instituto Vladimir Herzog sobre direitos humanos?
A revista Journalism Practice tem chamada aberta para artigos sobre sustentabilidade do jornalismo no Sul Global: resumos até 10 de janeiro.
A 7ª Media Ethics Conference será em março de 2023 na Universidade de Sevilla (Espanha). Propostas de comunicação em português, espanhol ou inglês são aceitas até 31 de janeiro.
Não esqueça dessas chamadas: economia política do futebol (23/12 — EPTIC); jornalismo e cultura streaming (01/2023 — Interin).
Serrapilheira e ICFJ selecionam jornalistas e pesquisadores para investigar a desinformação científica. Deadline de inscrição: 5 de fevereiro.
Até 28 de fevereiro, mande seu trabalho para o Encontro Nacional de Pesquisa Aplicada em Comunicação (ApliCom), que será em junho de 2023 na UFMA.
Dairan Paul e Rogério Christofoletti respiram aliviados depois de mais uma edição. A newsletter dá aquela paradinha e retorna em fevereiro. Sejam felizes em 2023!
Esta newsletter é uma realização do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.