Os portais queridinhos do Google News
Edição 102: algoritmos, sempre eles! + fundo de apoio a jornalistas + quatro ebooks
Olá, assinante!
Enquanto você acompanha o depoimento à CPI do ex-ministro e general da ativa Eduardo Pazuello, que tal reforçar sua imunidade ética acompanhando o maior congresso sobre o tema? O 6º Congresso Internacional sobre Ética da Comunicação começou ontem na Universidad Complutense de Madri, vai até sexta, e pode ser assistido neste canal.
E já que está por aqui, aproveite os conteúdos desta edição!
FILHOTES PREFERIDOS
Todo agregador de conteúdo tem seus favoritos, né? Afinal, a gente tá cansado de saber que nenhuma tecnologia é neutra.
Não é diferente com o Google News. O serviço de curadoria de notícias atua em mais de 70 países e também tem seus queridinhos no Brasil, os portais G1 e Terra. São as fontes de maior visibilidade no agregador.
Ninguém sabe exatamente quais são os critérios que beneficiam alguns sites em detrimento de outros. Essa falta de transparência chegou até mesmo a motivar a saída de 154 jornais brasileiros do serviço em 2012.
Para os que permaneceram, a concentração de conteúdo em poucas fontes contraria a suposta diversidade prometida pela curadoria. É o que sustenta uma análise volumosa de um milhão e 200 mil notícias agregadas pelo Google News brasileiro durante os três primeiros meses de 2015.
Como o serviço precisa estar sempre atualizado, o algoritmo StoryRank parece privilegiar redações que produzem conteúdo diário. É por isso que os 839 canais de informação — formados sobretudo por veículos pequenos, de condições econômicas frágeis — são pouco relevantes para o agregador. Quem mantêm altas taxas de visibilidade continuam sendo grandes portais como G1 e Terra. Menores em número, mas de infraestrutura mais robusta, eles garantem o funcionamento do serviço.
E conteúdo mais concentrado significa conteúdo menos diverso. Para a pesquisadora Tania Cobos, que assina o estudo, o Google News não reforça apenas o domínio dos mesmos grupos no mercado de mídia. Ele também dá mais peso para suas orientações ideológicas, o que gera novos níveis de gatekeeping e possíveis impactos sociais ao debate público.
EM NOSSO SITE…
A cobertura da quebra de patentes das vacinas não pode olhar só para o Brasil — uma análise de Vinícius Augusto Bressan Ferreira.
Pós-Verdade e Covid-19: dois perigos ao jornalismo — um artigo de Vitória Ferreira.
Conhece nossa biblioteca virtual? Temos o Guia de Cobertura Ética da Covid-19 os livros Ética Jornalística e Pandemia: entrevistas com especialistas e Ética, Mídia e Tecnologia: entrevistas internacionais, e duas coleções de códigos deontológicos traduzidos (aqui e aqui).
FIQUE DE OLHO
Mais um bloco pra você conhecer novas fontes de informação jornalística — e, se possível, pre$tigiá-las:
O Nonada (RS) mantém o projeto Observatório de Censura à Arte e está mapeando casos de violência contra artistas no Brasil. Pelo menos 15 ataques já foram registrados neste ano.
Na terra de Zumbi dos Palmares, quilombolas tiveram sua prioridade na vacinação desrespeitada. Quem denuncia o “esquecimento” do governo alagoano é o site O Que Os Olhos Não Veem (AL).
E na semana do Dia Internacional contra a LGBTIfobia, conheça o “jornalismo independente e fora do armário” da Agência Diadorim (SP/PE). Nesta coluna, um histórico sobre os 40 anos da imprensa lésbica brasileira.
RADAR
Já que começamos falando de Google News, aproveite para ler a nova publicação da Fenaj lançada ontem. “O impacto das plataformas digitais no jornalismo” divide-se em sete capítulos que debatem a constituição econômica das big techs (ou GAFAM — Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft) e seus reflexos no modelo de negócios do jornalismo.
Também é apresentada uma possível saída: a taxação das empresas, assunto que volta e meia tratamos nesta newsletter. Ao final, o relatório traz na íntegra o documento Plataforma Mundial por Um Jornalismo de Qualidade, formulado pela Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ). Com inspiração nos exemplos de Colômbia, Argentina e Uruguai, que criaram o Imposto Sobre Valor Agregado para cobrar anúncios das plataformas digitais, a versão brasileira propõe transferir os recursos para um Fundo de Apoio e Fomento ao Jornalismo e aos Jornalistas.
“Trata-se de uma justa reparação, visto que as grandes plataformas têm receita bilionária e quase não são tributadas, e de uma justa destinação de recursos a uma atividade essencial à constituição da cidadania: a produção jornalística”, defende a FIJ.
Com apoio da FENAJ, o próximo passo do grupo de trabalho é redigir as bases para um Projeto de Lei a ser enviado ao Legislativo.
FALSOS MECENAS
Calma que ainda não cansamos do tema. Para Diego García Ramírez, os fundos de apoio ao jornalismo do Google e Facebook não passam de uma “campanha de relações públicas”. Neste artigo, o pesquisador argumenta que as iniciativas não oferecem solução aos problemas estruturais da profissão.
Reserve um tempo para ler o novo relatório sobre desinformação e Covid do grupo de pesquisa MIDIARS, liderado por Raquel Recuero. Um dos resultados: usuários que compartilham fake news costumam ser mais engajados do que aqueles que desmentem mentiras.
Análise de um ano de cobertura da Folha de S. Paulo sobre a vacina demonstra a importância do jornalismo na conscientização dos cidadãos.
As diferenças e similaridades no julgamento de profissionais americanos e franceses sobre a função social do jornalismo.
4 LIVROS GRÁTIS
El Pueblo Quiere Saber: Acceso a la información pública, libertad de expresión y democracia, dos argentinos Mariano Irigoyen e Sebastián Castelli.
El periodismo en pandemia, do Foro de Periodismo Argentino (FOPEA).
El Periodismo Ante la Desinformación, de nossa parceira Fundación Gabo.
Mídia, tempo e interações sociais: conceitos em circulação, do selo PPGCOM/ UFMG.
SECOS & MOLHADOS
Multas milionárias, acusações de terrorismo e ‘sábados de bullying’: o assédio contra jornalistas na América Latina, por Júlio Lubianco.
Estamos sempre denunciando perseguições e agressões contra jornalistas no país, principalmente mulheres. Foi o caso da repórter Emanuele Madeira, da TV Clube, afiliada da Globo no Piauí, agredida fisicamente no início do mês. O Ministério Público Federal está mais do que ciente desses riscos.
17 organizações e mídias independentes assinaram um editorial que pede o impeachment de Bolsonaro.
Nossa parceira, a Fiquem Sabendo, processou a Abin por barrar acesso a documentos públicos. Pode, Arnaldo?
Alguns cuidados éticos ao lidar com fontes anônimas durante uma apuração.
Flavia Lima agora é ex-ombudsman da Folha e passa a assumir a editoria de Diversidade no jornal. Ela coordenará um trainee destinado exclusivamente a jornalistas negros.
No dia 30, José Henrique Mariante, estreia como novo ombudsman da Folha.
Perdeu o Seminário Internacional LAI e Jornalismo: Caminhos para a Transparência Pública, da Abraji? Foi ontem, mas tem vídeo aqui.
Aliás, quase metade dos jornalistas brasileiros nunca utilizaram a Lei de Acesso à Informação para apurar reportagens.
Do Uruguai, Gabriel Kaplún se queixa do projeto de nova lei da mídia: falta transparência e ele não ataca a concentração dos meios.
No Velho Continente, vai surgir o European Digital Media Observatory.
Dois episódios de podcasts sobre jornalismo. No Vida de Jornalista, bastidores de apuração com a repórter Nayara Felizardo (The Intercept Brasil). E a repercussão do caso Samuel Klein comentado pelo diretor da Agência Pública, Thiago Domenici, no podcast Nós da Imprensa.
Kelly Robledo juntou diversos recursos de apoio para o exercício ético do jornalismo. Vale favoritar.
AGENDE-SE
Hoje à tarde tem palestra com Mauricio Stycer (UOL) sobre crítica televisiva, em evento organizado pelo grupo de estudos MidiAto, da USP.
Um prazo a mais para o dossiê de 100 anos de Paulo Freire, até 15/06. Chamada da revista Comunicação & Educação.
Inscreva até 05/07 a sua monografia, dissertação, tese ou pesquisa aplicada na 16ª edição do Prêmio Adelmo Genro Filho, da SBPJor. Os trabalhos precisam ter sido defendidos em 2020.
Interseccionalidade e plataformas digitais será o tema da próxima edição da Fronteiras. O periódico da Unisinos recebe proposta de resumo até 09/07.
Chamada para dossiê sobre raça, mídia e comunicação antirracista na revista Contemporânea. Submissões até 10/08.
Vários dossiês que mencionamos na newsletter passada ainda estão com prazos válidos: 30/05 — dossiê sobre mídia e inovação (Revista Observatório); 31/05 — gênero, mídia e política (Líbero); 01/06 — mídia, comunicação e liberdade de expressão (Intercom); 10/06 — desinformação, crise das verdades e negacionismo científico (Eco-Pós); 14/06 — a informação e o mal: disputas éticas, políticas e epistemológicas da Comunicação (Mídia e Cotidiano); 01/12 — jornalistas e construção midiática dos problemas públicos (Sur le journalisme/About Journalism/Sobre jornalismo).
Com um olho no editor de texto e outro acompanhando a CPI da Covid, Dairan Paul & Rogério Christofoletti produziram mais uma edição para você. A próxima chega em 2 de junho.
Esta newsletter é um produto do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), projeto do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Brasil.